CEOs e o presidente Trump querem os trabalhadores de volta ao escritório nos EUA

Cinco anos após o início da pandemia, os trabalhadores se acostumaram a um padrão: seus chefes fazem planos de retorno ao escritório, que são posteriormente adiados. E adiados novamente. Nas últimas semanas, no entanto, os apelos para acabar com o trabalho remoto voltaram com força e autoridade.


Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva exigindo que os chefes de departamentos federais “encerrem os arranjos de trabalho remoto” e exijam que todos os trabalhadores federais retornem ao trabalho presencial cinco dias por semana.

Ele antecipou a medida em dezembro, quando disse que os funcionários federais que se recusassem a ir ao escritório seriam “demitidos”.




Alguns CEOs, que há tempos apoiam o fim do trabalho remoto, também anunciaram planos de retorno completo ao escritório. Amazon, JPMorgan e AT&T informaram a muitos funcionários que precisariam voltar ao escritório cinco dias por semana neste ano.


Mesmo na cultura popular, o escritório está retomando seu lugar, com o filme “Babygirl”, com Nicole Kidman, glamorizando a figura do CEO de blusa social, a série de TV “Ruptura” retornando com uma nova temporada explorando dramas psicológicos corporativos e boletins populares como “Feed Me” declarando o trabalho remoto “fora de moda”.


Alguns trabalhadores, que voltaram ao trabalho presencial por conta própria, estão ansiosos para retomar suas rotinas de trabalho pré-pandemia.


Mas muitos defensores do trabalho remoto expressaram preocupação com a perda total da flexibilidade.


— É muito desafiador encontrar cuidados infantis que permitam que você esteja no escritório das 9h às 17h —disse Sara Mauskopf, CEO e fundadora da Winnie, uma startup que conecta famílias a prestadores de cuidados infantis. Sua empresa é totalmente remota.


O retorno ao escritório na Amazon começou em 2 de janeiro, quando a empresa instruiu a maioria dos trabalhadores a comparecer cinco dias por semana, em vez dos três dias exigidos a partir de maio de 2023. Em alguns locais, o prazo foi adiado enquanto a empresa reconfigura os espaços de trabalho.


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O CEO Andy Jassy disse, em um memorando aos funcionários, que retornar ao escritório permitiria que os trabalhadores “inventassem, colaborassem e se conectassem” uns com os outros e com a cultura da empresa.


“Antes da pandemia, não era garantido que as pessoas pudessem trabalhar remotamente dois dias por semana, e isso também será verdade daqui para frente”, escreveu Jassy.


O JPMorgan informou aos funcionários que o trabalho presencial apoiaria melhor o mentoramento e o brainstorming. A empresa começará a implementar seu retorno ao escritório em março.


“Sabemos que alguns de vocês preferem um cronograma híbrido e entendemos respeitosamente que nem todos concordarão com esta decisão”, escreveu o JPMorgan em um memorando aos funcionários. “Sentimos que agora é o momento certo para solidificar nossa abordagem de trabalho totalmente presencial.”


Muitos especialistas em força de trabalho apontam que os executivos querem o retorno das pessoas ao escritório há algum tempo, para fins de construção de cultura e relacionamentos.

O que mudou, dizem eles, é que os empregadores sentem que têm mais vantagem agora que o mercado de trabalho não está tão apertado como durante o auge da “grande renúncia”, quando havia mais vagas abertas do que pessoas desempregadas.


— Isso se torna outra dimensão da compensação — em um mercado de trabalho muito apertado, os empregados têm mais poder e os empregadores podem não pressioná-los a voltar porque podem querer sair— disse Harry Holzer, economista da Universidade de Georgetown. — Em um mercado de trabalho mais frouxo, os empregadores podem se preocupar menos com isso.


Às vezes, o empurrão para o retorno ao escritório tem menos a ver com a construção de uma cultura de escritório e mais com custos.

Nick Bloom, economista da Universidade Stanford que estuda o trabalho remoto e orienta executivos sobre arranjos híbridos, disse ter observado algumas empresas pressionarem os funcionários a voltarem ao escritório como uma forma de reduzir o quadro de funcionários, entendendo que chamar todos de volta encorajaria alguns a pedir demissão.


— A diminuição do movimento DEI [Diversidade, Equidade e Inclusão] tornou isso um pouco mais fácil— acrescentou Bloom, referindo-se à reação contrária às iniciativas corporativas de diversidade, explicando que mulheres e funcionários de grupos sub-representados tendem a apoiar mais o trabalho remoto em pesquisas.


Apesar desses esforços de alto perfil para trazer os trabalhadores de volta ao escritório cinco dias por semana, muitos outros empregadores mantêm uma abordagem híbrida.


Dados de um projeto da Universidade Stanford que rastreia taxas de trabalho remoto mostram que mais de um quarto dos dias pagos nos Estados Unidos ainda são trabalhados remotamente.

E cerca de três quartos dos americanos cujos empregos podem ser feitos remotamente continuam trabalhando de casa parte do tempo, de acordo com o Pew Research Center.


Um dos motivos pelos quais o trabalho híbrido continua tão popular é a clara preferência dos trabalhadores por flexibilidade. Quase metade dos trabalhadores remotos entrevistados pelo Pew disse que consideraria deixar seus empregos se os empregadores não permitissem mais alguma flexibilidade remota.


Na Amazon, funcionários corporativos organizaram uma greve em maio de 2023 protestando contra o retorno ao escritório. Alguns empregadores disseram não ter planos de mudar a abordagem híbrida.


— Estamos comprometidos em fornecer flexibilidade à força de trabalho e acreditamos que a abordagem híbrida-flex permite que as equipes colaborem intencionalmente — disse Claire Borelli, diretora de pessoas da TIAA, uma empresa de investimentos que convocou seus funcionários de volta ao escritório três dias por semana em março de 2022.


Alguns defensores do trabalho remoto dizem que a política não teve impacto na produtividade e ajudou na retenção de funcionários. Quando o contrato de aluguel da Yelp venceu em 2021, a empresa decidiu mudar de local e sublocar um espaço menor da Salesforce. Agora, a empresa permite que os funcionários trabalhem totalmente de forma remota, desafiando as tendências mais amplas de retorno ao escritório.


— Neste ponto, quase eliminamos o descritor de trabalho remoto — é apenas a forma como trabalhamos — disse Carmen Amara, diretora de pessoas da empresa.


Carmen acrescentou que qualquer ceticismo que a empresa enfrentou sobre sua política remota desapareceu devido aos resultados financeiros. A empresa relatou receita líquida e lucratividade recordes no terceiro trimestre de 2024, bem como uma redução de 13% na rotatividade desde 2021.


Mas, com grandes nomes como Amazon e JPMorgan retornando ao escritório em força total, e com Trump insistindo que o funcionalismo público faça o mesmo, o setor imobiliário comercial está moderadamente otimista, segundo Ruth Colp-Haber, CEO da Wharton Property Advisors, uma corretora imobiliária.


A ocupação dos escritórios ainda está instável — pouco mais da metade do que era antes da pandemia — segundo a Kastle, uma empresa de segurança no local de trabalho cujo barômetro de retorno ao escritório reflete as oscilações do trabalho remoto desde 2020. Mas isso é um aumento em relação ao que era em 2022.


— Essas coisas demoram a se refletir nos números, mas não há dúvida de que o momento está do lado positivo — disse Ruth. — Por uma variedade de razões, uma delas sendo a pressão de grandes empresas para ter cinco dias por semana de volta ao escritório, estamos vendo uma demanda maior por espaço de escritório.

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