A empresa de papel e celulose Suzano comprou a divisão Tissue da Kimberly-Clark no Brasil, a qual fabrica papéis higiênicos, guardanapos, lenços umedecidos, lenços de papel, entre outros. A operação envolve uma fábrica em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, com capacidade instalada de 130 mil toneladas anuais de Tissue, e a marca Neve.
O sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, enxerga sinergia entre as empresas e vê como positiva a aquisição:
— Cada vez mais as empresas são pressionadas a entregar lucro, ao invés de apenas crescimento. A Suzano passa a ganhar não só na matéria prima, como na ponta também. Consegue diversificar a receita, que é o que todo mundo está buscando atualmente.
Embora classifique a transação como pequena, João Frota, estrategista da Senso Corretora, acredita que esse passo sinaliza para o mercado a diversificação em termos de verticalização na produção, diante da busca de produtos que agreguem valor ao faturamento.
— Na receita líquida do segundo trimestre, 82% foi referente à celulose, 12% a papéis de imprimir e escrever, 3% a papel cartão e mais 3% a outros papéis, o que engloba Tissue. A Suzano já vinha sinalizando a intenção de ampliar esse mercado, que é muito resiliente e agrega muito valor para empresa — analisa Frota. — A Klabin faz muito isso. Produz celulose, vende a metade e verticaliza o restante, produz embalagens.
De acordo com a companhia, que não divulgou o valor da operação, a aquisição vai complementar e fortalecer a linha da Suzano nos mercados de papel higiênico, toalhas de papel e guardanapo e fortalecer sua atuação no Sudeste, visto que a companhia é mais consolidada no Norte e Nordeste.
As linhas de fraldas infantis e adultas e absorventes femininos ficaram de fora da transação, que está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
A empresa disse que aquisição não irá impactar a saúde financeira ou o seu nível de endividamento. Na quinta-feira, dia 27, a Suzano deve divulgar o resultado financeiro da empresa.
“A complementariedade de categorias de produtos e de geografia nos permitirá melhorar ainda mais o serviço prestado para diferentes clientes e oferecer um portfólio mais completo aos consumidores de todo o Brasil”, afirma o diretor executivo de Bens de Consumo e Relações Corporativas da Suzano, Luís Bueno.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, avalia que, com a operação, a empresa tenta fazer é diminuir sua exposição à celulose e aumentar em outros produtos com menor variação de preço, passando a depender menos do mercado externo e mais do interno:
— No mercado interno, Suzano, Klabin e Irani são responsáveis por 80% das vendas de papel no Brasil. Esse mercado cresce junto com o PIB, em geral o dobro do resultado da economia. Não varia muito e é um mercado que eles dominam — explica Conde. — Na parte da celulose, 80% é direcionado ao mercado externo. Lá fora, os preços variam muito durante o ano. Podem cair ou subir cerca de 20%. É um mercado muito volátil.
Nesta segunda-feira, os papéis da Suzano terminaram com alta de 3,48%, negociados a R$ 51,42. Segundo os analistas, o ganho foi relacionado principalmente à alta do dólar, que fechou cotado em R$ 5,30, e a um relatório divulgado pelo JP Morgan. O banco americano elevou a recomendação de equal-weight (equivalente à neutra) para overweight (equivalente à compra).
Com 11 fábricas em operação no Brasil e exportando para mais de 100 países, a Suzano tem capacidade instalada de 10,9 milhões de toneladas de celulose de mercado e 1,4 milhão de toneladas de papéis por ano.
Há cinco anos ingressou no mercado de bens de consumo, quando concluiu a construção de duas fábricas de Tissue, em Mucuri (BA) e em Imperatriz (MA) e comprou a Facepa, com duas unidades. Seu último investimento foi em 2021, quando a companhia concluiu a construção de uma fábrica em Cachoeiro de Itapemirim (ES).
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