Destaque contra Rússia, Rosamaria viveu dilema e deixou seleção em 2019

A oposta Rosamaria foi fundamental para a vitória de virada da seleção brasileira feminina de vôlei sobre a Rússia, pelas quartas de final das Olimpíadas de Tóquio-2020, nesta quarta-feira (4).

Ela entrou no segundo set, quando a equipe perdia por 1 a 0 em sets, e, mesmo com menos tempo em quadra, dividiu a liderança na pontuação do time com a central Carol Gattaz. Ambas anotaram 16 pontos.


Com Rosamaria na equipe, o placar terminou em 3 sets a 1 (23/25, 25/21, 25/19 e 25/22). A importância da atuação dela foi ressaltada pelo técnico José Roberto Guimarães na zona mista. Ele contou que a principal missão de Rosamaria foi ajudar a fechar o bloqueio, algo que fez com qualidade.


“A Rosa deu uma consistência boa, principalmente no bloqueio em cima da Voronkova. Ela estava virando muito em cima da levantadora e em cima da oposta. Foi assim contra os Estados Unidos. E a Rosa entrou com a mão certa, o tempo certo, e impediu que ela atacasse naquela posição.”




Prova da eficiência da oposta neste fundamento é que, dos 16 pontos que anotou, seis foram de bloqueio. Este desempenho ajudou Zé Roberto a fazer algo que sabia ser necessário para jogar as quartas de final.


Logo que soube que pegaria a Rússia, o treinador afirmou que o Brasil precisaria ser firme no bloqueio e impedir que as adversárias batessem bem posicionadas, de modo que não pudessem explorar todo o seu poder de ataque.


A eficiência de Rosamaria neste fundamento obrigou as rivais a se movimentarem e diminuiu a capacidade ofensiva das russas.

A jogadora estava contente com a atuação pelas quartas de final de uma Olimpíadas, sua primeira vez no maior evento do esporte.


“Uma das maiores preocupações era este bloqueio. A gente tinha que parar elas nas extremidades, que é uma arma delas muito forte de desafogo do ataque. Consegui parar uma das principais atacantes dela”, disse a atleta.


Ser destaque na partida é a recompensa por uma decisão ousada tomada em 2019. Naquele ano, Rosamaria pediu para não ser convocada para a seleção.

Ela vivia um momento complicado na carreira, sem conseguir se firmar nos times que defendia. A atleta também preferia jogar como oposta e não vinha obtendo a performance que gostaria. Diante do cenário, aceitou atuar no vôlei italiano.


“Arrisquei, joguei tudo para o ar e falei: ‘Vou tentar o que está dentro do meu coração’. Valeu muito a pena”, comentou na zona mista. Rosamaria deixou a seleção e o Brasil. Foi jogar no Perugia, um time de menor expressão da Itália. Manteve o patamar de equipe ao se transferir para o Casalmaggiore no ano passado.

 

Mesmo em um clube menos qualificado, terminou como segunda maior pontuadora da liga italiana. O adiamento das Olimpíadas por causa da pandemia deu tempo para o seu jogo crescer e permitiu que ela voltasse a ser chamada por Zé Roberto.

Ele já havia trabalhado com ela e notou grande diferença no reencontro. O técnico disse que ela estava maios forte e mais focada.


“Quando se apresentou, era uma jogadora diferente da que saiu. E isso chamou a atenção de toda a comissão técnica. O amadurecimento, o foco, e tudo isso que a gente estava querendo que ela chegasse.”


Rosamaria explicou que a mudança de país permitiu que se reencontrasse consigo mesma. A obtenção deste equilíbrio interno teve reflexos no desempenho, e ela comemorou a ousadia de arriscar.


“Foi uma escolha em 2019, em uma conversa com o Zé. Eu optei por não estar aqui [em 2019] porque eu queria estar aqui hoje da maneira que eu estou. E é uma sensação de dever cumprido. Eu sabia que se não tivesse ido [para Itália] em 2019, eu não ia conseguir chegar aqui da maneira que cheguei porque eu precisava deste tempo para mim.”


A jogadora não teve medo de ser ousada na escolha do rumo de sua carreira. Seguia um conselho do treinador. “Zé fala que quem não arrisca não merece ganhar. Então a gente deve ter coragem. Eu não quero sair de quadra com sensação de ter perdido por não ter coragem. Pode ser mérito do adversário, mas, falta de coragem, eu não admito.”


Rosamaria aplicou o conselho e colhe os frutos. Está na primeira Olimpíada e foi destaque contra a Rússia pelas quartas e na estreia diante da Coreia do Sul – justamente a adversária das semifinais. Com tantos resultados positivos, a jogadora está a uma partida de uma final olímpica.

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