‘A pista pune’, diz medalhista sobre queda do Brasil no revezamento 4 x 100 m

O Brasil chegou a Tóquio-2020 com uma boa expectativa em cima do revezamento 4 x 100 m rasos masculino. Afinal, o time formado por Rodrigo do Nascimento, Felipe Bardi, Derick Silva e Paulo André Camilo foi campeão no Mundial de Revezamentos em 2019, no Japão. Mas agora nas Olimpíadas, a equipe foi eliminada ainda na primeira fase da disputa.


Para Sandro Viana, que conquistou a medalha de bronze no revezamento nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 e hoje é guia de atletas paralímpicos, o problema do time brasileiro aconteceu na passagem dos bastões.




“Eu participei de uma reunião na CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) para falar de revezamento. E na ocasião dessa reunião, mostraram um estudo de todos os revezamentos brasileiros dos últimos anos. E sabe o que o estudo mostrava? Que embora esse grupo atual fosse o mais rápido de todos, ele tinha os piores coeficientes da passagem do bastão”, conta Viana.


“O revezamento não é só a velocidade. Então tínhamos o melhor tempo e a pior passagem. Era preciso corrigir essa falha. Mas parece que o conselho não foi levado em conta. Aí a pista pune. E nos puniu em Tóquio”, completa o ex-velocista.


Nelson Rocha dos Santos também disputou a final olímpica no revezamento 4 x 100 m rasos. Ele esteve nas equipes brasileiras em Moscou-1980 e Los Angeles-1984. Vendo a prova de Tóquio pela TV, Nelsinho também critica a passagem de bastão dos atletas do Brasil.


“Olha, as passagens de bastão foram muito demoradas”, diz Nelsinho, com o seu olhar clinico de treinador. “Especialmente do segundo para o terceiro homem, eu percebi que as passagens não foram velozes como costumam ser. Tradicionalmente o Brasil executa bem a passagem. Este foi um fator que, com o correr dos anos, passou a ser um dos pontos fortes e característicos do nosso revezamento”, analisa.


A tristeza e a decepção de Nelsinho são compartilhadas por Sandro Viana. “A preparação para Tóquio focou no elemento velocidade e perdeu a eficiência da passagem. O comando técnico optou por isso e errou. Nosso revezamento foi punido. O que ficou na minha mente e na de muitos outros corredores é que se desperdiçou uma oportunidade concreta de se ganhar uma medalha. Perdeu-se a chance de consolidar uma tradição do revezamento.”


A atuação do Brasil deixou Viana irritado, principalmente porque em maio já tinha sido desclassificado nas provas de 4 x 100 m masculina e feminina no Mundial de Revezamento após cometer irregularidades nas corridas.


“Abriu-se mão de se aperfeiçoar a passagem, e no Mundial de Revezamento ficou evidente que erros grosseiros foram cometidos. Erros didáticos. Erros idênticos. Erros acadêmicos. Ficou claro para todos, porque o revezamento já virou para o brasileiro algo que todos entendem. É quase como futebol e vôlei, que todos dão opinião. Era uma tradição nossa, e acabamos tropeçando em nossas próprias pernas”.


Do alto de sua experiência de atleta, técnico, professor e dirigente, Nelsinho Rocha dos Santos propõe uma grande conversa entre todos os que trabalham no atletismo do país. “É hora de sentar e ver realmente o que está acontecendo.”

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