Após ser indicada pelo PT para ocupar uma vaga na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, Maria do Rosário (PT-RS) tenta diminuir resistência entre parlamentares da bancada evangélica. Nesta terça-feira (31), a petista participou de uma reunião da Frente Parlamentar Evangélica com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) — o responsável por costurar o acordo que a coloca na Segunda Secretaria da Câmara.
A indicação de Maria do Rosário gerou grande desconforto entre os parlamentares evangélicos, assim como sua presença no encontro desta manhã. De acordo com fontes ouvidas pelo Globo, a Frente havia marcado uma reunião com Lira, e a presença de Rosário não era esperada pelos integrantes.
Durante sua trajetória na Câmara, a deputada reeleita para o sexto mandato sempre foi vista como um expoente do progressismo — distante das pautas de costumes, caras à Frente. Na reunião, o pastor Marco Feliciano (PL-SP) relembrou um episódio de 2013, quando foi indicado pelo PSC para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Casa. À época, em meio ao governo de Dilma Rousseff (PT), a então ministra dos Direitos Humanos, liderou uma oposição contra o seu nome e chegou a pedir sua renúncia sob o argumento de que seria um descrédito das instituições. Ao GLOBO, Feliciano explicou os motivos que o fez trazer o assunto à tona.
— Quando vi Maria (do Rosário) sabia que ela ia fazer parte da chapa de Arthur (Lira) e acordo partidário não se quebra. Mas, não podia deixar de lembrar que quando ela era ministra e eu presidente da comissão não tive nenhum apoio dela ou do PT. Então a questionei: caso um pastor como eu seja indicado, o PT cumprirá o acordo? Ela respondeu que o PT cumprirá todos os acordos partidários. Eu quero acreditar nela — afirmou Marco Feliciano.
Para Rosário, o episódio de 2013 já foi superado. Feliciano, no entanto, afirma que “quem bate esquece, quem apanha não”. Também naquele ano, os dois protagonizaram uma série de embates públicos. Na ocasião, a então ministra estava empenhada em evitar a aprovação do projeto da “cura gay”, que autorizaria psicólogos a tratar homossexuais com o objetivo de curá-los. Feliciano classificou a atitude de Rosário como uma interferência “perigosa” do Executivo no Legislativo.
— Acho que ela está mexendo onde não devia. Senhora ministra, juízo. Fale com a sua presidenta porque o ano que vem é político. Dona ministra Maria do Rosário, dizer que o governo vai interferir no Legislativo é muito perigoso. É perigoso, dona ministra, principalmente, porque ela mexe com a bancada inteira, feita não só por religioso — ironizou em audiência pública.
Em termos de bandeiras políticas, Rosário e a Frente ocupam campos opostos: a bancada evangélica esteve alinhada ao antigo governo de Jair Bolsonaro (PL), principal opositor de Lula. Já Rosário é filiada ao PT desde o início de sua trajetória política e foi uma das maiores críticas de Bolsonaro no Congresso.
Em dezembro do ano passado, ao sinalizar apoio à reeleição de Lira, os parlamentares entregaram um documento com pautas prioritárias ao presidente da Câmara. Entre elas, a Lei do Estatuto da Família, projeto que visa garantir políticas públicas de valorização da entidade formada a partir da união entre um homem e uma mulher, excluindo as famílias homoafetivas, tema que vai de encontro aos PL’s da deputada de apoio à comunidade LGBTQIAP+.
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