Após o Banco Central indicar na última semana que poderia retomar com a trajetória de aumento da taxa básica de juros (Selic), o Ministério da Fazenda espera uma suavização no discurso da autarquia. Na manhã desta terça-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulga a ata explicando a decisão de manter os juros em 13,75%, pela quinta vez consecutiva.
No Ministério da Fazenda, interlocutores dizem que são esperados sinais “positivos”, no mesmo processo da reunião do Copom no início de fevereiro, quando houve um comunicado “duro”, mas um abrandamento na ata – divulgada tradicionalmente 5 dias após o anúncio da Selic.
Na época, a ata foi considerada “amigável” pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele já externou que espera o mesmo movimento no detalhamento dos juros que será divulgado amanhã. Haddad, inclusive, chegou a mencionar que a Fazenda levaria ao Banco Central “observações” sobre o equilíbrio da economia brasileira.
Por outro lado, economistas ouvidos pelo Globo avaliam que o espaço é pequeno para sinalizações positivas do Banco Central, quando a última medida fiscal com efeitos práticos (no curto prazo) foi a volta parcial dos impostos federais sobre a gasolina e o diesel.
— Do último Copom para esse, não houve nenhuma novidade em termos de política fiscal, dessa maneira é difícil esperar alguma sinalização por parte do Banco Central sobre eventual antecipação do corte da Selic. Essa antecipação é condicional a termos o novo arcabouço fiscal — avalia Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Para a economista, se o BC sinalizar eventual redução de juros – sem o detalhamento da nova regra fiscal – há risco de frustração nas expectativas sobre o patamar da Selic e da inflação, considerando que a regra pode ser desidratada ou não apresentar sustentabilidade.
— A questão não é apenas conhecer a regra, é conhecer os termos. O arcabouço precisa ser minimamente austero no sentido de gastos para contribuir com uma tendência mais tranquila para o indiciamento público — cita Abdelmalack.
Mínimo sinal
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, explica que os passos do Banco Central estão sendo avaliados minuciosamente e mesmo a ausência de termos pode sinalizar uma direção.
No comunicado da última semana, por exemplo, o Banco Central retirou a menção sobre a “elevada incerteza” em relação ao arcabouço fiscal, e expressou que haveria “incerteza” sobre a medida de controle das contas públicas. O Ministério da Fazenda apresentou o desenho do regramento fiscal para o Banco Central.
— O presidente [Lula] ainda não bateu o martelo sobre a proposta do Ministério da Fazenda. O BC ouviu a proposta, mas não é a regra definitiva. A ata não pode detalhar nada sobre [a nova regra fiscal]. O que foi apresentado ao Banco Central não é o arcabouço definitivo — cita Damico.
Para ela, o BC pode diminuir “o peso do comunicado” na ata que será divulgada amanhã, mas o “espaço é pequeno”, com as expectativas em alta sobre a inflação.
Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos, segue a mesma linha e avalia alta volatilidade na inflação projetada pelo mercado no ano de 2023 e 2024.
— Não temos um consenso sobre qual o direcionamento da inflação. Há 4 semanas, tínhamos [na Valor Investimentos] um consenso para o IPCA fechar 2023 a 5,9%. Há uma semana tivemos uma alta para 5,95%, já hoje está em 5,93% — detalha.
Para ele, essa volatilidade será amenizada quando houver definição sobre a regra para os gastos públicos.
— A regra é o mais forte e mais influente para reduzir a inflação — diz.
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