Quem é Maíra Botelho, que comandará secretaria de R$ 68,5 bilhões no Ministério da Saúde

Com mais de duas décadas de carreira na saúde pública, Maíra Batista Botelho alçou ao posto de secretária de Atenção Especializada à Saúde (Saes) na última quarta-feira, quando o ministro Marcelo Queiroga formalizou a dança das cadeiras na Saúde.

O convite, no entanto, veio há semanas, enquanto a troca já se desenhava nos bastidores. De perfil firme e olhar técnico, a enfermeira é vista como uma pessoa que demonstra seriedade, conversa olho-no-olho. Noutra ponta, porém, há a análise de que falta maturidade de gestão para o cargo.


A ex-diretora de Atenção Especializada e Temática (Daet), subordinada à pasta, agora comandará um orçamento de R$ 68,5 bilhões. Esse valor, que consta na dotação inicial do programa de Atenção Especializada à Saúde para 2022, é quase o dobro do destinado ao de Atenção Primária à Saúde, com R$ 34,6 bilhões e deve financiar o tratamento de doenças raras, contra o câncer, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a habilitação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). 


— Ela tem bastante experiência na área da atenção especializada à saúde. Essa é uma secretaria grande, é uma secretaria que tem um orçamento importante, o maior orçamento do Ministério da Saúde e é uma secretaria onde nós precisamos fazer determinados ajustes — afirmou Queiroga durante a apresentação dos novos secretários.

 




Entre os integrantes da pasta, há quem avalie que as trocas da dança das cadeiras são positivas e devem contribuir para a renovação de trabalhos do ministério. Secretários de saúde, por sua vez, veem possibilidade de descontinuidade em atividades já desempenhadas e de prejudicar o combate à pandemia, mas entram em consenso ao afirmar que respeitam as decisões da pasta. A expectativa deles é, sobretudo, manter o diálogo construído junto a estados e a municípios.


Um dos gestores, ouvido pelo Globo em caráter reservado, considera que Botelho — substituta de Sérgio Okane, que deve voltar ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) — representa a maior mudança no caso. Entre interlocutores do ministério, não há consenso sobre a transição da nova secretária da Saes: se uma ala vê com surpresa e avalia que há falta de experiência com gestão, outra acredita que a promoção se deu de forma natural, já que é servidora de carreira.


Saiba mais: Pandemia põe saúde mental à prova e faz número de especialistas em apoio psicológico crescer Botelho chegou ao ministério em 2014 como servidora cedida pela Secretaria de Saúde de Paracatu, sua cidade natal, para coordenar a Política Nacional de Humanização (PNH). Depois, assumiu como diretora do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência (Dahu) e, em seguida, o Daet.


É esse braço da secretaria, antes sob gestão dela, que concentra o maior número de políticas de atenção especializada na alta complexidades. Entre eles, estão o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), sangue e hemoderivados, neurologia, otorrinolaringologia, neurocirurgia, urologia e outras especialidades médicas. Agora, a nova rotina começa por volta das 9h, sem hora para terminar ou fim de semana.


Enfermeira obstetra, a secretária não atuou na linha de frente da pandemia, já que se dedica há anos à gestão de crise. Interlocutores da pasta contam que a secretaria se mobilizou durante o colapso do oxigênio em Manaus (AM), quando pacientes internados com Covid-19 morreram por asfixia.

Maior secretaria da pasta, a Saes atuou num segundo momento da crise, com o deslocamento de mulheres com câncer de mama que tiveram o tratamento interrompido para o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro.


Já na tragédia em Brumadinho (MG), Botelho atuou junto ao acolhimento das vítimas e à identificação dos corpos como representante do ministério, numa ação coordenada pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (CBM-MG).

Como gestora, também integrou o comitê federal de enfrentamento à crise migratória em Pacaraima (RR). Lá, trabalhou por dois meses na estruturação de pontos de atenção à saúde, como salas de vacinação e atendimento a grávidas, na fronteira com a Venezuela.

Pessoas próximas à secretaria contam que esse foi um dos momentos mais marcantes para Botelho no ministério e que vê a promoção ao comando com gratidão, uma forma de reconhecimento pelo trabalho. Já os desafios estão no dia a dia da formulação de políticas públicas de atenção à saúde, para além da pandemia.


— Sou enfermeira, servidora pública e não caí de paraquedas aqui. Eu tenho uma trajetória de mais de 21 anos na carreira pública — afirmou Botelho, em entrevista à imprensa, que agradece a promoção de duas servidoras públicas (ela e Sandra Barros) aos cargos de secretárias: — Nós vamos trabalhar muito integradas, isso é muito importante, contando com apoio de todos os gestores estaduais e municipais nessa relação intefederativa que pretendemos fortalecer.


Na dança das cadeiras, a então secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES), Mayra Pinheiro, pediu demissão para assumir a subsecretaria da Perícia Médica Federal da Secretaria de Previdência do Ministério do Trabalho e Previdência, onde é servidora federal.

Ao deixar a pasta, os planos da “Capitã Cloroquina” são mais ambiciosos e incluem se candidatar à deputada federal pelo PL do Ceará na próxima eleição.A saída abriu brecha para tirar os holofotes de Hélio Angotti Neto, possibilidade que vinha sendo aventada.

Foi o oftalmologista quem barrou o protocolo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) contra o “kit Covid” — comprovadamente ineficaz contra o coronavírus — enquanto secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SCTIE). Agora, ocupa o lugar que era de Mayra em pasta na qual foi diretor.


Essa mudança é vista como uma espécie de “saída honrosa” dada por Queiroga ao médico, olavista declarado, diante da polêmica da nota técnica antivacina e pró-cloroquina. Com o posto vago, a então diretora do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos, Sandra de Castro Barros, ascendeu ao cargo. As nomeações foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) na última quarta-feira.

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