Organização quer estimular tecnologia a comercializar metano em hidrelétricas no Brasil

O Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas (Lab), organização que desenvolve e lança instrumentos financeiros inovadores para investir em ações sobre mudança climática e desenvolvimento sustentável, vai acelerar um novo instrumento financeiro brasileiro neste ano: o Mecanismo de Captura de Reserva de Metano (Reservoir Methane Capture Mechanism). 


A ideia do Mecanismo é uma das sete selecionadas, em todo o mundo, para o ciclo de aceleração de 2022. A proposta é mobilizar recursos e dar suporte técnico para a implementação do conceito na prática. 


Apresentada pelas empresas Open Hydro e Bluemethane, o mecanismo quer desenvolver um mercado de captura e negociação de gás metano a partir da captação em reservas hidrelétricas no Brasil, atraindo investimentos públicos e privados.  

 




Maria Ubierna, diretora da Open Hydro, explica que a proposta é mobilizar financiamentos climáticos para reduzir as emissões de gás metano liberados por quedas d’água de hidrelétricas brasileiras e que, inicialmente, os investimentos serão usados para o desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia que torna esse processo de captação possível.


Segundo ela, o retorno financeiro é de curto prazo, por meio da comercialização do metano capturado, que pode gerar biogás e energia limpa.


As hidrelétricas produzem água rica em metano como resultado natural de suas operações. Se capturado, esse metano pode abastecer geradores de biogás, fornecendo uma fonte de receita estável e concreta para as hidrelétricas.


O instrumento financeiro vai cobrir o custo dessas estruturas e será compensado em taxas fixas e variáveis, de acordo com a energia gerada.  


A diretora-geral da Climate Policy Initiative, Barbara Buchner, destaca que o instrumento é aplicável em todo o mundo para qualquer reservatório hidrelétrico existente e em qualquer geográfica.


No entanto, disse ela, as áreas tropicais seriam uma prioridade devido às emissões de desgaseificação potencialmente mais altas. Pode levar até cinco anos para implementação em novos países.  


— Vamos implantar a iniciativa no Brasil e, posteriormente, escaloná-lo globalmente, não apenas para energia hidrelétrica, mas também para reservatórios sem energia, além de tratamento de água e arrozais — afirmou Barbara, acrescentando que a iniciativa se beneficia de fontes adicionais de renda, como créditos de carbono, que trazem lucro extra ao mecanismo e podem atrair investidores. 


A energia hidrelétrica no Brasil é a espinha dorsal do mix de geração de eletricidade, com mais de 109 GW (mais de 28 GW implantados na última década). A captura de metano pode reduzir as emissões de pico que ocorrem décadas após o represamento e contribuir para as metas climáticas do Brasil. 


De acordo com a diretora-geral da Climate Policy Initiative, o mecanismo desenvolvido pela Open Hydro e Bluemethane foi escolhido por beneficiar as concessionárias de energia hidrelétrica e os proprietários de ativos, reduzindo suas emissões e fornecendo geração adicional de eletricidade.


Além das vantagens econômicas, ajuda a reduzir os riscos reputacionais e traz uma vantagem competitiva em relação a outros fornecedores de eletricidade renovável.


— A maioria dos fornecedores de eletricidade não realiza medições diretas e apenas estima suas emissões — diz Barbara. 


O instrumento ajuda os operadores hidrelétricos a medir suas emissões reais e validar os resultados. Além disso, explicou Barbara, o instrumento ajuda a reduzir os riscos de transição das empresas devido a futuros impostos sobre carbono ou regulamentos sobre emissões. 


— Precisamos agir urgentemente para superar as barreiras financeiras e a lacuna na prestação de contas para reduzir as emissões de carbono dos reservatórios das hidrelétricas. O Lab é uma referência mundial de aceleração de instrumentos financeiros e capaz de mobilizar conhecimento de alto nível, além de capital financeiro para o nosso mecanismo— comenta Maria Ubierna, diretora da Open Hydro.  


De acordo com ela, o Lab oferece o suporte técnico necessário a implementação do conceito na prática, agindo como catalisador para destravar financiamentos climáticos.


— Esperamos que esse apoio nos ajude a traduzir os benefícios de mitigação e adaptação da captura do gás metano dentro de um instrumento sólido e atrativo financeiramente — completa Maria. 


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A entidade, que em 2021 mobilizou mais de US$ 800 milhões para o enfrentamento da crise do clima em economias emergentes, é financiada pelos governos da Alemanha, Holanda, Suécia e Reino Unido, além da Fundação Rockefeller. A gestão é do Climate Policy Initiative.


Desde que foi criado, em 2014, o Lab já lançou 55 instrumentos, comemorando a marca de mais de US$ 3,2 bilhões mobilizados. No Brasil, foram dez projetos acelerados até hoje, incluindo soluções financeiras nas áreas de energia renovável e uso da terra que superam barreiras de investimentos no clima. 


Uma dessas ideias, desenvolvida pela Albion Capital, é o Green FIDC Solar GD – primeiro Fundo de Investimento em Direitos Creditórios emitido como título climático do Brasil. Um desmembramento do fundo gerou também o primeiro certificado de recebíveis imobiliários climático do país, o Green CRI. Os dois instrumentos mobilizaram, em 2021, US$ 48,4 milhões (ou R$ 247,8 milhões). 


Nos próximos meses, o Lab vai unir representantes das iniciativas pública e privada para analisar e discutir como aprimorar os instrumentos selecionados neste ciclo. As ideias serão aprimoradas em conjunto com especialistas de diversos países, com o objetivo de potencializar sua capacidade de atrair investimentos.


Nesta fase, os projetos também passarão por um período de análise, teste de resiliência e preparação para lançamento no fim do ano. 

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