Vice-líder do governo na Câmara deixa posto e acusa petista de influenciá-lo a mudar projeto

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Victor Linhalis (Podemos-ES) deixou o posto nesta segunda-feira.


Ele acusa do líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), de influenciá-lo a mudar seu voto em relação ao projeto que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e do qual ele é relator, que “dispõe sobre a retirada de invasores de propriedades privadas”.


O texto prevê que proprietários de terras invadidas possam retomá-las “por sua própria força ou utilizar força policial”, independentemente de ordem judicial, “contanto que o faça logo e que os atos de defesa ou desforço não ultrapassem o indispensável à manutenção ou restituição da posse”.




Linhalis se diz favorável ao texto e argumenta que não aceitou interferências.


“A decisão se deu pela divergência de opiniões em relação à pauta da segurança jurídica no campo, da qual sou relator na CCJ. Enquanto defendo o endurecimento da legislação e a segurança jurídica ao produtor rural quanto as invasões de terra, o direcionamento da liderança do governo vai em sentido contrário. Falei que não mudaria e abriria mão da vice liderança se fosse desta forma as coisas conduzidas”, disse em referência a Guimarães.


O GLOBO procurou José Guimarães, mas ainda não teve resposta.


Os debates na CCJ e a saída de Linhalis da vice-liderança do governo da Câmara ocorrem em meio à nova investida do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que retomou as invasões e disse ter ocupado 24 propriedades desde a semana passada, no Abril Vermelho. Na semana passada, em outra frente do “pacote” de medidas que tenta frear as ações do MST, a Câmara aprovou urgência para apreciar um projeto de lei que se refere a invasões de terra. O projeto prevê sanções administrativas e restrições aplicadas aos ocupantes e invasores de propriedades rurais e urbanas em todo o território nacional.


A CCJ retomará, nesta terça, a discussão do projeto sobre invasões no campo. Na última semana, um pedido coletivo de vista, feito pelos governistas, prorrogou a votação e mais suas sessões da CCJ serão necessárias antes da votação.


A sessão da CCJ que iniciou os debates sobre o projeto de lei sobre invasões de propriedades foi marcada, desde o início, por tentativas de embargo dos governistas. Os parlamentares tentaram ingressar com debates extra-pauta para impedir a votação do projeto. O requerimento de inclusão extra-pauta foi rejeitado em votação simbólica. A CCJ da Câmara é presidida pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC).


O deputado Patrus Ananias disse que a pauta da CCJ defendia “os interesses do capital”.


“Deputados dessa CCJ querem o direito à propriedade para poucos. Estamos vendo a restrição da função social da propriedade rural e a restrição dos espaços urbanos. É o domínio do dinheiro”, lamentou.


Já o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) disse que o projeto é “democrático e constitucional”.


— O direito por intermédio de defesa por meio de arma de fogo é fundamental. Este projeto dá autonomia aos governos estaduais de controlarem suas legislações em relação às armas. Querem desarmar os nossos cidadãos. Esta matéria é constitucional — afirmou.


Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou um programa para a reforma agrária, em solenidade no Palácio do Planalto, com a participação do grupo. A nova ofensiva dos sem-terra provocou reação dos governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e da bancada ruralista — todos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.


Aliado histórico do PT, o MST voltou a invadir terras no momento em que o governo tenta se aproximar de ruralistas. A relação conflituosa entre o agro e os sem-terra coloca Lula em um ponto de pressão entre a militância de esquerda e a necessidade de ampliar sua base.

Veja também

Lula e Lira discutem crise do governo com o Congresso em encontro no Alvorada

Congresso

Lula e Lira discutem crise do governo com o Congresso em encontro no Alvorada

Gilmar Mendes determina conciliação em ações sobre marco temporal

Marco temporal

Gilmar Mendes determina conciliação em ações sobre marco temporal


Waiting..

Breaking News Breaking News

Learn More →