Fim da Aids até 2030 exige recursos, direitos humanos e solidariedade, diz ONU

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Um novo relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids, o Unaids, mostra que o mundo está em um momento crítico para fazer com que a doença deixe de ser uma ameaça de saúde pública até 2030. Atualmente, uma pessoa morre por causas relacionadas à doença a cada minuto.

Com apenas seis anos faltando para o cumprimento do compromisso assumido por líderes mundiais, a agência afirma que as escolhas políticas feitas este ano determinarão se a pandemia mais mortal do mundo será superada.

O preço como barreira ao tratamento

O relatório “A Urgência do Agora”, lançado na Conferência Internacional de Aids, realizada nesta semana em Munique, na Alemanha, afirma que das 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids, 9,3 milhões, não estão recebendo o tratamento.

A coordenadora de projetos da ONG Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Susana Von Der Ploegh, participa do evento internacional e aponta que existem diferenças “gigantescas” entre os preços pagos pelos países por medicamentos essenciais.

“Nesse primeiro dia de conferência, o que posso colocar é que a gente vê muitos discursos sobre colocar as pessoas em primeiro lugar, mas muitas vezes esse se torna um discurso vazio e, porque não dizer, hipócrita, quando a gente vê a desigualdade estrutural que há nesse mundo em termos de acesso a medicamentos, estigma e informação”, disse ela. “Enquanto ativista por acesso a medicamentos, sinto falta nessa conferência de trabalhos e questões que envolvam a barreira do próprio sistema global de patentes.”

Aula sobre o contágio de HIV na região de Darfur no Sudão (Foto: UN Photo)Aula sobre o contágio de HIV na região de Darfur no Sudão (Foto: UN Photo)
Aula sobre o contágio de HIV na região de Darfur no Sudão (Foto: UN Photo)
Necessidade de tratamento vitalício

Susana, que é coordenadora da coalizão de organizações brasileiras chamada Grupo de Trabalho de Propriedade Intelectual (GTPI), citou o medicamento Dolutegravir, usado por 600 mil brasileiros. Segundo ela, esse é um exemplo no qual o preço pago no Brasil por mês equivale ao valor pago por ano em outros países, como resultado das barreiras patentárias.

A diretora executiva da Unaids, Winnie Byanyima, pediu que “os recursos necessários e que os direitos humanos de todas as pessoas sejam protegidos”. Dados do relatório indicam que, caso as políticas adequadas sejam adotadas, o número de pessoas vivendo com HIV/Aids que necessitarão de tratamento vitalício será de cerca de 29 milhões até 2050.

No entanto, caso seja tomado o caminho errado, o número de pessoas que precisarão de suporte por toda a vida aumentará para 46 milhões. O estudo do Unaids mostra um progresso contínuo e lento na distribuição de medicamentos para pessoas vivendo com HIV/Aids, com 30,7 milhões atualmente em tratamento.

Angola e Moçambique

Angola e Moçambique estão entre os países com maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids sem acesso a tratamento na África Subsaariana. As duas nações lusófonas também estão entre os seis países com maior incumprimento da demanda por terapia antirretroviral para crianças.

O relatório afirma ainda que o conflito no norte de Moçambique causou uma “queda acentuada” no número de pessoas que recebem tratamento.

Os cálculos da Unaids mostram que, embora 20% dos recursos para o HIV/Aids devam ser dedicados à prevenção para as populações mais afetadas, apenas 2,6% do total de gastos foi destinado a intervenções para populações-chave em 2023.

Prevalência no Brasil

No Brasil, a alta prevalência foi relatada entre afrodescendentes e populações indígenas, especialmente mulheres negras, que têm prevalência duas vezes mais alta do que na população feminina em geral.

Para diretora e representante do Unaids no Brasil, Claudia Velasquez, “o enfraquecimento da solidariedade entre e dentro dos países está colocando o progresso em perigo”.

Por outro lado, o relatório aponta que o Ministério da Saúde do Brasil fez experiências com uma máquina modelo de aprendizagem para prever quais pessoas tinham maior probabilidade de perder o acompanhamento nos serviços públicos.

Usando dados comportamentais e sociodemográficos coletados no país desde 2014, o modelo sinalizou com sucesso as pessoas em maior risco de abandono, permitindo assim a elaboração de intervenções precoces e personalizadas.

O relatório demonstra que os serviços de prevenção e tratamento do HIV/Aids só alcançarão as pessoas se os direitos humanos forem respeitados, se leis injustas contra mulheres e contra comunidades marginalizadas forem abolidas e se a discriminação e a violência forem abordadas. 


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