Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Hill
Por Eliot Wilson
No mês passado, líderes mundiais convergiram para a 79ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. A agenda pretendida focou nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU sobre mudança climática, pobreza e desigualdade.
A realidade foi um pouco diferente.
Dominando estavam a invasão contínua da Ucrânia pela Rússia e a conflagração multifacetada no Oriente Médio. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou que a Rússia estava perdendo sua guerra de conquista e, portanto, estava tentando quebrar o moral civil atacando a rede de energia da Ucrânia. Em contraponto, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, empregou os tropos habituais da inocência de seu país, enquanto alertava sombriamente que o apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Ucrânia era uma “escapada suicida” por causa do arsenal nuclear da Rússia.
O presidente eleito recentemente do Irã, Masoud Pezeshkian, falou sobre seu desejo de reforma e engajamento internacional, ao mesmo tempo que denunciava a “barbárie desesperada” de Israel. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fez um discurso intransigente condenando “inimigos selvagens que buscam nossa aniquilação”, levando várias delegações nacionais a se retirarem.
Alguns adotaram uma abordagem mais ampla. O sempre previsível presidente Javier Milei da Argentina tomou emprestado muito de um episódio da série The West Wing ao fazer um discurso redefinindo o objetivo da ONU como o direito das pessoas de viverem sem “opressão política, escravidão econômica ou fanatismo religioso”. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer tentou apresentar seu novo governo como um avatar de tudo o que havia de melhor na ONU: “A própria essência do que é ser humano — de direitos iguais e inalienáveis baseados em uma fundação de liberdade, justiça e paz no mundo”.
A esmagadora maioria dos palestrantes negligenciou o quadro geral: as Nações Unidas estão falhando em todos os lugares. É uma organização ineficaz que oscila à beira da irrelevância.
Ela não conseguiu intervir na crise crescente no Oriente Médio. Sua força de manutenção da paz de dez mil homens no Líbano foi reduzida ao status de espectadora enquanto Israel confronta o Hezbollah. A guerra civil no Sudão viu 2,1 milhões de refugiados fugirem do país, enquanto outros 12 milhões foram deslocados internamente, com 750 mil sudaneses estão à beira da fome. O Conselho de Segurança apoiou a missão de segurança liderada pelo Quênia no Haiti, mas está fazendo pouco progresso contra o caos generalizado.
Zelensky, diante de um inimigo que não acredita que a Ucrânia exista como nação, identificou a crise institucional: “Infelizmente, na ONU, é impossível resolver verdadeira e justamente questões de guerra e paz porque muito depende do poder de veto no Conselho de Segurança. Quando o agressor exerce o poder de veto, a ONU é impotente para parar a guerra.”
Isso vai ao cerne do problema, mas também à sua natureza insolúvel. A ONU foi fundada em 1945, uma resposta séria à Segunda Guerra Mundial, incorporando um desejo apaixonado de impedir que tal guerra acontecesse novamente. Mas ela retém a arquitetura estratégica daquela era.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, que sozinhos têm o poder de veto, são as potências vitoriosas daquele conflito: os EUA, o Reino Unido, a Rússia, a França e a China (até 1971, esse último lugar era ocupado por Taiwan, formalmente a República da China, não a República Popular da China Comunista). Isso ignora sete dos dez maiores países do mundo em população e cinco dos dez maiores em PIB. Esquemas repetidos de reforma — para aumentar o número de membros permanentes, para incluir a Índia, o Japão, a Alemanha ou o Brasil, para garantir uma cadeira para um país na África ou da Liga Árabe — naufragaram.
Há duas verdades desagradáveis sobre a ONU. A primeira é que ela é fundada em uma falácia, de que todas as nações são iguais e têm igual peso moral e integridade. Isso não é verdade e leva a resultados grotescos, como o Irã presidindo o Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos no ano passado.
A segunda é a de que a ONU só é genuinamente eficaz quando uma das principais nações coloca seu peso por trás de uma missão, diplomática ou militar. Por exemplo, a ONU amenizou o conflito selvagem na antiga Iugoslávia e ajudou a apressar os Acordos de Dayton de 1995 graças às contribuições militares e financeiras dos EUA e aliados da Otan. Ela também supervisionou uma paz mais ou menos supervisionada e desconfortável em Chipre, graças à contribuição constante do Reino Unido, que mantém 3,5 mil militares na ilha como Forças Britânicas no Chipre.
Mas, quando os países do mundo desviam o olhar, como fizeram em Ruanda em 1994, nenhuma resolução ou comunicado pode impedir uma catástrofe.
Não há solução óbvia. Os membros permanentes do Conselho de Segurança nunca abandonarão seu poder de veto voluntariamente, especialmente devido ao crescente isolamento e à defensividade da Rússia. Enquanto isso, a credibilidade da ONU é baixa, com acusações generalizadas de abuso sexual por forças de manutenção da paz, infiltração terrorista na UNRWA e uma sensação generalizada de que o secretário-geral, António Guterres, não consegue ver um conflito sem tentar dividir a diferença moral e esperar que ele chegue ao fim.
Nosso mundo cada vez mais polarizado é um clima frio para organizações multilaterais. À medida que a violência aumenta, as tensões étnicas fervem e as barreiras comerciais são erguidas, é difícil ver não apenas como, mas por que as nações devem se submeter a uma jurisdição abrangente que prega ineficazmente um bem comum às vezes contencioso.
A ONU depende, em princípio, de uma estranha combinação de idealismo e relativismo moral, enquanto na prática é apenas um pano de fundo para a política de grandes potências e expressão de queixas históricas. Esse não é um futuro sustentável.
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