Governo discute saída honrosa para Pimenta após Lula defender “correções” na comunicação

Com a intenção do presidente Lula de promover alterações na área de comunicação, integrantes do governo discutem uma saída honrosa para o ministro da área, Paulo Pimenta. Entre as opções estão realocá-lo em outra pasta no Palácio do Planalto ou assumir a liderança do governo na Câmara. Ao Globo, o ministro afirmou ter conversado na segunda-feira com o presidente e que não houve sinalização de mudança.


— Sou uma pessoa da relação pessoal, de confiança do presidente Lula. Ele sabe que pode contar, tenho uma relação de lealdade do nosso projeto com ele e não há da parte dele nenhuma sinalização para que haja algum tipo de alteração no ritmo do trabalho que está sendo feito na Secom — afirmou Pimenta.

 




Uma eventual substituição na Secom deverá ficar para o ano que vem e fazer parte de uma reforma ministerial mais ampla.


A possibilidade de demissão de Pimenta ganhou força na sexta-feira, após Lula tornar pública sua insatisfação com a comunicação do governo. Em discurso em evento do PT, o presidente afirmou que há erros na estratégia de divulgação de ações da sua gestão e que será necessário fazer “correções”.


Pimenta disse concordar com a avaliação do presidente e admitiu dificuldades do governo em dar visibilidade a ações dos ministérios. Para ele, porém, não é uma questão que envolve apenas a gestão petista, mas se trata de “um desafio para esquerda no Brasil e no mundo”.


Antes de fazer críticas públicas à comunicação do governo, Lula já havia afirmado a aliados a intenção de trocar o comando da Secom. O petista tem sinalizado que o publicitário Sidônio Palmeira é sua primeira opção para assumir a função. Palmeira foi marqueteiro da campanha vitoriosa de Lula em 2022 e tem dado colaborações pontuais no governo. Os dois almoçaram juntos no Palácio da Alvorada na semana passada.


O marqueteiro presta serviços para o PT e precisaria se afastar de sua empresa para assumir o cargo no governo, o que tem sido considerado um empecilho. A avaliação é que Lula conta com Palmeira para coordenar a campanha de 2026 e ele ficaria pouco tempo na pasta antes de se desvincular para cuidar da estratégia eleitoral.


O xadrez que Lula tenta montar para realocar Pimenta envolve desalojar outros aliados. A Secretaria-Geral, um dos destinos cogitados, é ocupada pelo ministro Márcio Macêdo, que é do círculo próximo do presidente, mas poderia assumir um cargo na estrutura do PT. Ele já foi tesoureiro do partido, além de ter exercido a mesma função na campanha eleitoral do presidente em 2022.


A pasta é responsável pela relação direta com movimentos sociais e, de acordo com o entorno de Lula, tem potencial para ter mais protagonismo político. Em maio, o presidente ficou incomodado com um ato esvaziado de 1° de Maio em São Paulo que havia sido organizado por Macêdo.


Já a liderança do governo na Câmara é exercida por José Guimarães (PT-CE), que tem planos de concorrer ao Senado em 2026. Lula gostaria de ter um nome mais combativo na defesa do governo no Congresso e vê em Pimenta alguém que poderia se adequar a esse perfil.


Se decidir efetivar a saída de Pimenta da Secom, essa será a primeira troca nos ministérios na chamada “cozinha palaciana”.


Poder limitado

Petistas próximos a Pimenta argumentam que seu poder à frente da pasta é limitado. Os principais nomes responsáveis por tocar o dia a dia da comunicação do governo foram indicados por Lula e se reportam diretamente a ele. Esse argumento, segundo aliados, tem sido usado pelo ministro nos bastidores.


Dos seis secretários do ministério, apenas um, Fabricio Carbonel, que cuida dos contratos publicitários, é uma escolha de Pimenta. O secretário de Imprensa, José Chrispiniano, e de Audiovisual, Ricardo Stuckert, trabalham há mais de uma década com Lula. Os dois têm acesso direto ao presidente e suas ações, em boa parte dos casos, não passam pelo ministro.


Chrispiniano cuida da relação com a imprensa e entre suas funções está o agendamento de entrevistas. Stuckert, por sua vez, além de ser o fotógrafo oficial de Lula, também é responsável pelas postagens em suas redes pessoais.


A Secom também tem influência da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. A secretária de Estratégia Digital e Redes, Brunna Rosa, responsável pelas redes oficiais do governo, é ligada a ela. A secretária também possuía relação anterior com Lula, quando trabalhou na comunicação do petista durante seu segundo mandato, além de ter atuado na gestão de Dilma Rousseff.


Completam o grupo de secretários: Laércio Portela, de Comunicação Institucional, e João Brant, de Políticas Digitais. O primeiro é um nome escolhido por Lula. Quando Pimenta ficou à frente do Ministério de Reconstrução do Rio Grande do Sul, entre maio e setembro, foi Portela que assumiu interinamente o comando da Secom. Sua secretaria cuida da relação com os ministérios.


Já Brant foi escolhido pelo ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário. A sua secretaria, responsável por formular políticas públicas na área digital, originalmente seria vinculada ao Ministério das Comunicações, que teria Teixeira como titular.

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