Aumenta o registo de nascimentos, mas 150 milhões de crianças continuam ‘invisíveis’

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Um novo relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) revela avanços significativos no enfrentamento do problema dos milhões de bebês “invisíveis” que, a cada ano, não são registrados. Nos últimos cinco anos, quase oito em cada dez crianças menores de cinco anos foram registradas ao nascer.

No entanto, o relatório, intitulado O Início Certo na Vida: Níveis Globais e Tendências no Registro de Nascimentos, destaca uma realidade preocupante: 150 milhões de crianças menores de cinco anos ainda não são registradas, o que significa que não existem oficialmente nos sistemas governamentais.

De acordo com a diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, é crucial que sejam feitos “esforços mais intensos para garantir que toda criança, em qualquer lugar, seja registrada ao nascer.”

A importância do registro de nascimento

O registro de nascimento vai além de uma formalidade legal; ele é a porta de entrada para direitos e proteções.

Ele assegura a identidade legal da criança, previne a apatridia e facilita o acesso a serviços essenciais como saúde, educação e proteção social.

Ainda assim, mais de 50 milhões de crianças com nascimentos registrados não possuem certidões de nascimento, documento fundamental para comprovar o registro e assegurar a nacionalidade.

Bebês resgatados do hospital Al-Shifa, no norte de Gaza (Foto: Eyad El Baba/Unicef)
Desigualdades regionais e desafios

Embora as taxas globais de registro de nascimentos tenham subido de 75% em 2019 para 77% atualmente, o progresso não tem sido uniforme.

América Latina e Caribe, Ásia Oriental e Sudeste Asiático, e Ásia Central e Meridional lideram o ranking, com menos de 30% dos nascimentos não registrados.

Por outro lado, a África Subsaariana, que abriga metade das crianças não registradas do mundo, está ficando para trás.

Na região, as disparidades são marcantes: enquanto a África Austral alcança 88% de registros, África Oriental e Central permanecem atrás, com apenas 41%. O rápido crescimento populacional na região agravará o desafio, com projeções indicando mais de cem milhões de crianças não registradas até 2030, caso as tendências atuais continuem.

Barreiras ao registro e soluções

As famílias enfrentam inúmeras barreiras para registrar nascimentos. Elas frequentemente mencionam grandes distâncias, necessidade de múltiplas visitas às unidades de registro, falta de informação sobre o processo e discriminação com base em gênero, etnia ou religião. Custos elevados também são um problema recorrente.

Apesar disso, países como Botsuana, Costa do Marfim e Ruanda oferecem esperança ao alcançarem registros universais ou quase universais por meio de abordagens inovadoras.

As estratégias-chave desses países incluem o uso de sistemas de saúde e educação, a eliminação de taxas e a simplificação dos processos de registro com o uso de tecnologias digitais.

Perspectivas futuras

À luz deste novo relatório, o Unicef pede o estabelecimento do registro de nascimento como a base de um sistema de identidade legal.

A agência também planeja defender processos simplificados para aumentar a acessibilidade e o uso de programas de saúde, educação e proteção social para impulsionar o registro.

Reformas legais, com a criação de leis inclusivas para garantir acesso equitativo e o fortalecimento das comunidades para exigir o registro como um direito fundamental, também são cruciais.

“O registro de nascimento garante que as crianças sejam imediatamente reconhecidas perante a lei, fornecendo uma base para proteção contra danos e exploração, além de acesso a serviços essenciais como vacinas, cuidados de saúde e educação,” destacou Russell, ressaltando a necessidade vital de manter os esforços.


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