Autoridades alertam para risco crescente de pandemia com avanço da gripe aviária

A gripe aviária está se tornando mais adaptável e expandindo seu alcance para humanos, animais domésticos e espécies em zoológicos, alertaram as agências europeias de segurança alimentar e prevenção de doenças na quarta-feira (29). Diante de tal cenário, conforme o vírus continua a evoluir, o risco de uma possível pandemia cresce, segundo especialistas.

“Em 2024, os vírus da gripe aviária expandiram seu alcance, infectando espécies anteriormente não afetadas. Nosso trabalho identifica mutações-chave ligadas a uma potencial disseminação para humanos, exigindo detecção e resposta rápidas. A colaboração e o compartilhamento de dados ao longo da cadeia de atores envolvidos continuam essenciais para lidar com situações emergentes”, disse Bernhard Url, diretor executivo interino da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês).   

Embora surtos da doença tenham sido frequentes entre aves selvagens e espécies de criação, como frangos, o vírus já atingiu outros mamíferos, incluindo focas e gado leiteiro nos Estados Unidos, de acordo com o site Politico. O número de infecções em humanos, porém, ainda é considerado baixo, com casos isolados no Reino Unido e 67 registros nos EUA, incluindo uma morte.

Gripe aviária afeta sobretudo animais (Foto: PXFuel/Reprodução)

O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) avalia que o risco para a população em geral segue baixo, mas sobe para níveis moderados entre profissionais expostos a animais possivelmente infectados. No entanto, a situação mudaria se fosse confirmada a transmissão sustentada entre humanos, segundo Edoardo Colzani, chefe da área de vírus respiratórios da agência.

O ECDC e a EFSA já identificaram 34 mutações genéticas que facilitam a passagem do vírus de animais para humanos, além da replicação eficiente em pessoas, um dos fatores críticos para que a transmissão entre humanos se torne realidade.

De acordo com Alessandro Broglia, cientista sênior da EFSA, a presença dessas mutações ainda é um evento esporádico, mas não inédito. Ele afirma que, entre 27 mil sequências analisadas, 144 continham as características necessárias para saltar e se espalhar entre pessoas. Esses casos foram identificados principalmente na Ásia e na África, sem registros na Europa até o momento.

O cientista explicou que não apenas os vírus altamente patogênicos adquiriram essas mutações, mas também variantes menos agressivas, capazes de circular na população e, com o tempo, sofrer alterações que as tornem mais perigosas. Isso reforça a necessidade de vigilância rigorosa sobre todas as linhagens do vírus.

A adaptação da gripe aviária para mamíferos ocorre tanto por mutações genéticas quanto pela troca de material genético entre diferentes vírus. O contato entre animais silvestres, aves de criação, gado e seres humanos facilita esse processo.

“Estamos criando as condições para que isso aconteça? Que tipo de sistema de criação estamos implementando? Por que há tantos surtos em determinadas áreas? E por que há tantos saltos para mamíferos?”, questionou Broglia, ressaltando a necessidade de uma revisão das práticas agropecuárias.

Infecções em humanos

No ano passado, quase cem infecções humanas foram registradas, principalmente em trabalhadores que tiveram contato direto com animais doentes. Colzani afirmou que seria uma “boa prática” testar essas pessoas mesmo quando não apresentassem sintomas, para detectar possíveis transmissões silenciosas do vírus.

Uma das principais preocupações dos especialistas é a possibilidade de uma recombinação entre o vírus da gripe aviária e os vírus da gripe humana, o que poderia gerar uma nova cepa com alto potencial pandêmico. Para mitigar esse risco, Colzani recomendou que trabalhadores expostos a animais sejam vacinados contra a gripe sazonal.

A gripe aviária circula globalmente, mas a falta de dados laboratoriais em diversas regiões do mundo dificulta a resposta preventiva. “Sabemos pouco ou nada sobre o que está acontecendo em boa parte da Ásia e no continente africano, e esse é o problema. Não temos ideia do que pode estar se desenvolvendo ali”, alertou Broglia, reforçando a necessidade de ampliar a capacidade de monitoramento nesses locais.

Além do fortalecimento da vigilância global, é necessário padronizar as informações genéticas e os metadados associados ao vírus, um passo fundamental para a prevenção e a preparação contra uma possível crise sanitária.

“Os desenvolvimentos globais exigem que permaneçamos alertas e estejamos preparados para responder à ameaça da gripe aviária”, disse Pamela Rendi-Wagner, diretora do ECDC. “Ter planos de preparação sólidos em vigor é essencial para proteger a saúde pública.”


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