Auxílio Brasil de R$ 600 e correção do IR vão custar R$ 84 bilhões em 2023

Ao lançar o livro “Progressividade tributária e crescimento econômico”, os economistas Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal da FGV/Ibre e pesquisador da UnB, e Rodrigo Orair, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirmaram que os gastos contratados com o Auxílio Brasil de R$ 600 e a correção da tabela do Imposto de Renda, que está sem atualização desde 2016, vão custar R$ 84 bilhões em 2023, já que não se espera a redução do valor do benefício no ano que vem.


— O início do ano que vem vai ser bem complicado no Congresso. Como vai ser financiado o programa social? Está tudo muito indefinido. Deve vir mais uma PEC fura teto, algum waiver. Vai ficar um buraco, conflitante com as regras fiscais. Podem criar exceções à regra, pode vir algo nessa direção — afirma Orair.


Uma reforma no sistema tributário para torná-lo menos desigual, com tributação de lucros e dividendos na pessoa física, desoneração da folha de salários e igualdade na tributação indireta, segundo os economistas, traria cerca de R$ 78 bilhões a mais de arrecadação, gerando uma receita perene para programas sociais. A falta de cobrança de imposto sobre os dividendos gera distorções: o 1% mais rico paga apenas 5% de alíquota afetiva de Imposto de Renda, já que mais de 50% dos seus rendimentos são na forma de lucros e dividendos, que não são tributados.


—Metade da renda dos mais ricos não é tributada — diz Pires.


Orair afirma que a tendência mundial, principalmente depois da pandemia, é tornar os sistemas mais progressivos, ao contrário do que acontece no país.


— Chama a atenção esse movimento depois de 2008 e com grande força depois da pandemia. Pragmaticamente, o que sugerimos é que se volte às tendências mundiais. Houve enorme ampliação de transferência de renda que será difícil de voltar. Temos que buscar uma solução definitiva de financiamento para perenizar o benefício maior — afirma Orair.




E o aumento da arrecadação recente, com os números batendo recordes na série histórica, não é para sempre, estrutural, como sustenta o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao reduzir o Imposto de Produtos Industrializados (IPI), que já caiu 35%. “É um aumento transitório”, diz Pires:


— O que está acontecendo é uma recuperação muito forte na indústria, mas que vem perdendo fôlego, vem se desfazendo. Vimos isso em 2011. O país cresceu 7,5% em 2010 e o governo começou a desonerar. A diferença hoje é a produção de petróleo, reforçada pelo que está acontecendo no setor. Mas haverá uma desaceleração relevante nos próximos dois anos.


Nas contas do economista, o baixo crescimento dos últimos anos reduziu substancialmente a arrecadação. Se o Brasil tivesse crescido 2,62% ao ano entre 2010 e 2021, a arrecadação estaria R$ 230 bilhões acima de onde chegará ao fim de 2021.


“Só a receita de IR/CSLL estaria R$ 100 bilhões mais alta, o que sugere como é frágil o argumento de que existiria espaço fiscal para reduções de carga tributária como as previstas durante a tramitação da reforma do imposto de renda”, diz Pires no livro.

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