Dados do Banco Central apontam que o acesso a crédito cresceu no Brasil, mas a capacidade de pagar as dívidas piorou, sobretudo para famílias e pequenos negócios.
“O crédito bancário para pessoas físicas manteve o ritmo elevado de crescimento, e aquele voltado para as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) continuou em expansão a níveis superiores àqueles do período pré-pandêmico”, diz o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado pelo BC nesta quinta-feira.
A autoridade monetária alerta para riscos sobre a capacidade de pagamento dessas dívidas, fruto de incertezas em relação ao crescimento da atividade econômica e comprometimento da renda familiar.
De acordo com o BC, no caso das famílias, a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito piorou e retornou aos níveis pré-pandemia. “Apesar da recuperação econômica e da queda no nível de desocupação, a distribuição do comprometimento de renda individual dos tomadores de crédito apresentou tendência de alta no primeiro semestre de 2022, em valores próximos ou que superam os da pré-pandemia”, diz o documento.
As razões, segundo o BC, é explicada pelo comprometimento da renda com modalidades mais caras e de maior risco, como o cartão de crédito e o crédito não consignado. “ O crédito continuou crescendo a altas taxas, especialmente em modalidades de maior risco e retorno e em operações ligadas a transações de pagamento. A despeito de alguma redução nas taxas de crescimento das modalidades de crédito às pessoas físicas nos últimos meses, observam-se elevados valores históricos para modalidades de maiores retornos e, consequentemente, maiores riscos, como o crédito não consignado e o cartão de crédito”, diz o texto.
Como o Globo mostrou, o comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas chegou a 29,4% em agosto, maior índice da série histórica, iniciada em 2005. Já o crédito mais caro do mercado, o rotativo do cartão de crédito, quando o valor integral da fatura não é pago até a data do vencimento, chegou a 388,7% ao ano em setembro.
Pequenos negócios
No caso das empresas, o financiamento para micro, pequenas e médias empresas teve forte crescimento no primeiro semestre de 2022. Mas esses negócios tomaram mais empréstimos na modalidade de capital de giro.
“Mesmo após o aumento ocorrido no crédito às MPMEs nos últimos anos, sob forte influência dos programas emergenciais, o financiamento a esse segmento de empresas continua subindo a taxas anuais superiores ao do período pré-pandêmico”, observa do BC.
A autoridade monetária pontua que o risco das operações envolvendo pequenos negócios aumento, como verificado pela manutenção do score de risco em patamar mais elevado, em linha com os movimentos que ocorrem para pessoas físicas. “Os negócios de empresas de menor porte muitas vezes se confundem com a pessoa física que comanda a empresa; por isso, o risco das microempresas em muitos casos se assemelha ao risco das pessoas físicas”, explica.
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