O carioca Hugo Calderano, de 25 anos, esteve perto de escrever a mais importante página da história do tênis de mesa brasileiro, no início da madrugada deste domingo (28), no Mundial dos Estados Unidos.
Nas quartas de final do torneio individual masculino, no George R. Brown Convention Center, em Houston, o número 4 do mundo chegou a estar vencendo o chinês Liang Jingkun, nono do ranking mundial, por 3 a 0, mas permitiu a virada para 4 a 3 (11/8, 14/12, 11/8, 8/11, 4/11, 8/11 e 8/11) e adiou o sonho da primeira medalha de um brasileiro em mundiais pela categoria Adulto.
Esta, porém, foi a melhor campanha de um brasileiro no evento desde 1926, na sua primeira edição. Além disso, a campanha reforçou o fato de Calderano estar evoluindo o seu jogo.
Do sonho ao pesadelo
O duelo contra Liang Jigkun foi disputado em altíssimo nível. Confiante e muito agressivo em todas as ações, Hugo Calderano dominou o primeiro set desde o início e conseguiu a vitória por 11 a 8.
A intensidade da partida continuou alta na segunda parcial, com o brasileiro dificultando demais a recepção do chinês.
Por sua vez, Jingkun levava vantagem quando conseguia afastar Calderano da mesa e chegou a abrir três pontos de frente. O brasileiro buscou o empate e conseguiu a virada em 14 a 12.
Se a confiança já era alta no início do jogo, no terceiro set ela alcançou um nível nunca visto antes em sua carreira. Calderano abriu 4 a 1 e deixava o chinês paralisado, sorrindo incrédulo na mesa, sem entender o que estava acontecendo e vendo suas alternativas de reação se reduzirem.
Mesmo assim, Jingkun foi atrás do empate e chegou a virar. Um erro de saque empatando novamente o confronto em 8 a 8 fez com que o técnico chinês parasse o jogo para um tempo técnico. De nada adiantou. Calderano conseguiu uma sequência de três pontos consecutivos e fechou mais uma vez.
Ganhar de 4 a 0 de um dos principais chineses do circuito mundial seria a cereja do bolo. Para isso, o brasileiro teria de mostrar o seu poder de recuperação no quarto set, quando iniciou perdendo por 5 a 0.
E Calderano virou para 6 a 5. Mas logo viu o chinês abrir novmente, tendo três set points a seu favor. Evitou um, mas não conseguiu impedir a vitória do chinês na parcial.
A vitória que parecia questão de tempo deu lugar ao início de um pesadelo no quinto set. Nada deu certo para o brasileiro, que chegou a ter 8 a 1 contra no placar e foi superado com a certa tranquilidade. Jingkun continuou dominando as ações no sexto set e levou o jogo para o tie-break.
O momento do jogo agora era do chinês, que abriu 3 a 0 no set desempate e vibrava demais a cada ponto conquistado. O técnico Jean-René Mounié parou a partida, tentando salvar o que parecia inevitável. Jingkun seguiu abrindo, o brasileiro ainda reagiu, mas não conseguiu evitar a derrota.
Temporada positiva
Além de realizar a grande campanha no Mundial dos Estados Unidos, Calderano também alcançou neste ano as quartas de final do torneio individual dos Jogos Olímpicos de Tóquio, novamente um feito inédito. E ajudou o time brasileiro a chegar à mesma fase do torneio de equipes da Olimpíada, mais uma marca histórica.
Recentemente, o brasileiro se tornou o atleta das Américas com a melhor marca no ranking mundial em todos os tempos, igualando o norte-americano Sol Schiff, então número 4 do mundo na temporada de 1938. Com isso, Calderano atingiu um patamar que não era conquistado por atletas do continente há 83 anos.
O próximo desafio dele começa já no dia 4: o WTT Cup Finals, reunindo apenas os 12 principais mesa-tenistas do mundo, em Singapura.