Quatro anos após fracassar na sua tentativa de chegar à Presidência, Geraldo Alckmin (PSB) pisou na quinta-feira (3) em Brasília como centro das atenções. Escalado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar a transição, o vice da chapa vencedora passou o dia em reuniões. A mais simbólica, com o presidente Jair Bolsonaro, não durou nem dez minutos.
Alckmin estava saindo do Palácio do Planalto no começo da tarde depois de 30 minutos de conversa com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, quando foi chamado para subir ao gabinete presidencial, algo que não estava previsto. No relato do vice de Lula a jornalistas, a conversa foi cordial.
— Foi positivo. Ele reiterou o que disse o ministro Ciro Nogueira e o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-geral), da disposição do governo federal de prestar todas as informações, colaborações para que se tenha uma transição calcada pelo interesse público — afirmou Alckmin, que esteve em Brasília para as primeiras reuniões da transição de governo.
Questionado se Bolsonaro o parabenizou pela vitória nas urnas no último domingo, desconversou:
— O presidente fala depois o teor da conversa, mas foi, em resumo, reiterar os compromissos em relação a transição, pautada na transparência, continuidade dos trabalhos, planejamento e previsibilidade — respondeu o vice de Lula.
Após falar com Bolsonaro, Alckmin entrou no carro e pediu que o motorista o levasse até uma padaria, replicando em Brasília um hábito que o fez conhecido em São Paulo. Foi em cafés nestes estabelecimentos que o ex-tucano conversou com aliados e costurou apoios para a formação da chapa com Lula.
Alckmin foi a uma padaria acompanhado apenas de assessores, sem a companhia da presidente do PT, Gleisi Hoffmann e do coordenador do plano de governo, Aloizio Mercadante, que o ciceronearam ao longo do dia — os petistas também não estavam na conversa pessoal com Bolsonaro.
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O vice eleito sentou em uma mesa com outros seis assessores, pediu café e comeu um bauru (sanduíche com presunto, queijo e tomate). Foi tietado por funcionários e tirou fotos. Na saída, ganhou um pedaço de bolo para viagem.
Reuniões políticas
Alckmin desembarcou em Brasília no começo da manhã e foi direto para o diretório nacional do PT. Encontrou Gleisi e Mercadante e junto com um assessor legislativo, discutiu detalhes da portaria de transição. De lá, foi ao Senado iniciar as discussões para as adequações do Orçamento de 2023 com o relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI).
Chegou ao Congresso segurando, na mesma mão, dois celulares, um caderno de molas de 200 folhas e mais papéis soltos. Ao entrar, apertou a mão de funcionários do Congresso, repórteres e, ao ser questionado sobre a formação do primeiro escalão do novo governo, fugiu da resposta:
— Nesse momento não se está discutindo a questão ministerial.
Alckmin voltou ao centro do poder em Brasília quatro anos depois de renunciar ao cargo de governador de São Paulo para concorrer à Presidência. Em 2018, saiu da eleição com o pior desempenho do PSDB em disputas presidenciais, com 4,7% dos votos. No período em que não ocupou cargos públicos, se dedicou a um curso de acupuntura, teve um quadro sobre saúde e qualidade de vida em um programa da TV Gazeta e se dedicou a cuidar de um sítio de pouco mais de 12 hectares, em Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal.
A rotina discreta só foi interrompida durante a campanha presidencial. Em Brasília, Alckmin viveu o primeiro dia de holofotes da transição, a menos de dois meses de assumir o segundo cargo mais importante da República. Ao pisar no Congresso, foi tão assediado que mal conseguiu se movimentar sem ajuda dos seguranças legislativos.
A agenda também incluiu uma visita institucional a Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), que pela primeira vez criou um grupo para fiscalizar o processo da transição.
— O TCU tem papel importante na transição acompanhando as informações. Poucas instituições têm tantas informações de qualidade quanto TCU — disse na saída do tribunal.
De lá, Alckmin foi até a casa no ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acompanhado de Mercadante, onde ficou por pouco mais de uma hora.
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