Demora nas investigações do caso Marielle impediu localização de munições e de dados de antenas

No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os supostos mandantes dos homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a Polícia Federal elenca “empecilhos de ordem temporal” para as investigações. As diligências frustradas geraram a impossibilidade de se obter diversos elementos de provas, seis anos após os crimes.


O documento, que trouxe informações fornecidas por Ronnie Lessa em seu acordo de delação premiada, cita desde o desassoreamento de um córrego até a capina do barranco de um motel, ambos na Zona Oeste do Rio, como “exemplos do severo golpe que a intempestividade impôs à persecução”.




Como O Globo mostrou, o ex-policial militar contou ter utilizado um motel para testar a arma que seria usada na noite do crime contra a parlamentar, em março de 2018. Os investigadores chegaram a ir até o estabelecimento na tentativa de que fossem encontrados fragmentos de balas, mas foram informados pelo administrador que, em 2018 e 2019, contratou um “trator pequeno para fazer a limpeza da área”.


À PF, Lessa também relatou que as munições que sobraram do crime foram jogadas em um rio na região de Rio das Pedras, berço da milícia carioca. O local, entretanto, passou por uma obra com uso de caminhões e tratores para a ampliação do curso d’água pela prefeitura, sem meses antes da ida dos agentes, e os vestígios não foram localizados.


Os investigadores também não conseguiram rastrear as antenas dos telefones dos supostos envolvidos nas execuções citados por Lessa nos depoimentos prestados na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Esse tipo de informação é guardado pelas operadoras pelo prazo máximo de cinco anos.


Ainda no relatório, a PF também cita pelo menos dois homicídios – de Edmilson Macalé e de Adriano da Nóbrega. Ambos poderiam ter, conforme os investigadores, colaborado com o fornecimento de dados para o inquérito.


Enquanto Lessa é acusado de ser o responsável pelos disparos que atingiram Marielle e Anderson, no último domingo foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. Segundo a PF, os dois primeiros teriam ordenado os homicídios, o terceiro teria agido para protegê-los.

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