Apontado como destinatário de R$ 17,2 milhões em transferências via Pix entre o início de janeiro e 4 de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro já foi alvo de bloqueios em conta bancária por se negar a pagar multas na Justiça.
O montante foi citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelado nesta quinta-feira. O documento, ao qual O Globo teve acesso, diz que os valores são “atípicos” e se referem “provavelmente” à campanha de arrecadação feita por apoiadores de Bolsonaro para quitar sanções recebidas durante o seu governo, como a de circular na rua sem máscaras em meio à pandemia de Covid-19.
Em junho deste ano, Bolsonaro afirmou ter sofrido mais um bloqueio judicial de bens em função de três multas aplicadas pelo governo de São Paulo ainda na gestão de João Doria. O ex-presidente foi enquadrado por ter circulado sem máscara no estado, ferindo uma medida de proteção individual em vigor à época em função da pandemia.
Na ocasião, ao revelar o bloqueio, o então presidente mostrou que foi aplicada a restrição no valor de R$ 317.047,52 em sua conta. Dias antes, diante das multas não pagas, a Justiça de São Paulo já havia atuado determinando o bloqueio de R$ 87 mil nas contas de Bolsonaro.
O ex-presidente foi alvo de multas em diferentes cidades paulistas durante a pandemia. Conforme mostrou o colunista do Globo Lauro Jardim, ele também recebeu punições por irregularidades em Sorocaba (R$ 552,7 mil), Presidente Prudente (R$ 607,43), Eldorado e Iporanga (R$ 47,9 mil cada), Ribeira (R$ 63,9 mil) e Miracatu (R$ 319,7 mil). Em evento partidário do PL, Bolsonaro chegou a afirmar que terá de desembolsar algo em torno de R$ 2 milhões para quitar todas as multas de processos.
No começo de junho, Bolsonaro teve uma vitória no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que determinou a redução em R$ 40 mil no valor de uma das multas aplicadas contra o ex-presidente, como mostrou a colunista do Globo Bela Megale. Na decisão, a juíza Nandra Martins da Silva Machado, da 4ª Vara do Juizado Especial da Fazenda Pública da Capital, acolheu o argumento da defesa de Bolsonaro e reduziu a multa de R$ 43.635 mil para R$ 524,59.
No início do ano, a chave Pix de Bolsonaro foi divulgada nas redes sociais de ex-ministros do seu governo e parlamentares do PL para impulsionar a campanha de arrecadação. O órgão de inteligência financeira rastreou, ao todo, 769.717 operações de Pix efetuadas em seis meses.
Entre os principais doadores, figuram na lista uma empresária do agronegócio, com R$ 20 mil; um dono de uma companhia da construção civil, com R$ 10 mil; e um escritor, com R$ 10 mil; entre outros. A assessoria de comunicação e a defesa de Bolsonaro foram procuradas, mas não se manifestaram.
Repasses para Wal do Açaí, Michelle e irmão
Segundo relatório do Coaf, o ex-presidente também fez um repasse de R$ 3.600 neste ano para Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, apontada pelo Ministério Público Federal (MPF) como funcionária fantasma no período em que Bolsonaro foi deputado federal. Os dois negam a acusação.
No campo dos destinatários de recursos, também há dez lançamentos, totalizando R$ 56.073, para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Houve ainda 17 transferências, em um total de R$ 14.268 para uma lotérica, aberta em 2000, cujos sócios são um irmão e um sobrinho de Bolsonaro.