Em meio a polêmicas, Agrishow cancela cerimônia de abertura

A cerimônia de abertura da Agrishow, uma das maiores feiras de agronegócio do país, foi cancelada pelos organizadores. O comunicado divulgado pela organização aponta que a decisão se deu “em virtude de toda a repercussão gerada pela cerimônia de abertura”, sem dar maiores explicações. O anúncio ocorre a menos de dois dias do evento, marcado para esta segunda-feira em Ribeirão Preto (SP), e dias após o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmar que foi “desconvidado” após o ex-presidente Jair Bolsonaro ter confirmado presença. Na sexta-feira, o governo disse que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow.


A nota, assinada pelas entidades organizadoras do evento, reforçando que a organização “mantém sua tradição” de ser “vitrine” para o que há de moderno em tecnologia para o agronegócio, e reforçou o convite aos visitantes (leia a íntegra no fim da matéria).




A polêmica sobre a Agrishow começou na última quarta-feira, quando Carlos Fávaro disse ter sido “desconvidado” da feira. Fávaro teria sido informado da participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na abertura da feira, o que poderia causar tumulto ou constrangimento. Diante do impasse, o ministro diz que a organização do evento teria sugerido que ele comparecesse ao segundo dia, quando a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) se reunirá.


Em declaração ao blog da jornalista Andréia Sadi, do g1, Fávaro disse que a organização do evento “não desceu do palanque” e queria constrangê-lo ao mudar sua apresentação para que ocorresse após a participação do ex-presidente. Neste domingo, após o anúncio da Agrishow, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, declarou que Bolsonaro “continua bagunçando o coreto e atrapalhando o país”.


Em nota divulgada na quinta-feira, a direção da Agrishow negou ter desconvidado Fávaro: “O ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor”, diz trecho do comunicado.


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Já a Sociedade Rural Brasileira (SRB), que participa da organização da feira, publicou um pronunciamento em que afirma que a Agrishow é “democrática, apartidária, difusora de tecnologias e aberta a todos”.


Motociata e patrocínio


Enquanto isso, apoiadores do ex-presidente, como o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), começaram a anunciar em grupos de WhatsApp e nas redes sociais uma motociata (ou carreata) para recepcionar Bolsonaro em Ribeirão Preto. A previsão é que o ex-presidente chegue na cidade paulista na tarde deste domingo.


— Ele (Bolsonaro) merece todo nosso apoio, credor de toda nossa confiança. E nós vamos lá, no agro do interior paulista, todos conservadores, homens e mulheres de bem, vamos lá prestigiar — diz o ex-ministro do Meio Ambiente.


Na sexta-feira, o governo anunciou que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow. O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, argumentou que a decisão de foi tomada porque o evento foi politizado e, devido a isso, não deve receber recursos públicos. O governo não informou qual seria o valor do patrocínio dado pelo Banco do Brasil ao evento. O Banco do Brasil vai manter seu stand na feira, mas a presidente do BB, Tarciana Medeiros não irá.


– (O patrocínio será retirado devido a) Descortesia e mudança de caráter de um evento institucional de promoção do agronegócio para um evento de características políticas e ideológicas. Ou é uma feira de negócios plural e apartidária, ou não pode ter patrocínio púbico – disse Pimenta.


Procurado, o Banco do Brasil afirmou apenas que “estará presente na Agrishow por meio de sua atuação comercial para realização de negócios e atendimento aos seus clientes”, sem responder sobre o patrocínio em si.


O agronegócio tem travado uma relação sensível com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o período eleitoral. O governo tem tentado ampliar seu trânsito no agro, que é um dos setores onde o ex-presidente Jair Bolsonaro tem ampla capilaridade.


Durante o seu governo, Bolsonaro compareceu a feira todos os anos em que foi realizada: 2019, e 2022. No último ano de sua gestão, ele entrou no local montado em um cavalo. Em 2020 e 2021, o evento não ocorreu devido à pandemia da Covid-19.


Em 2019, Bolsonaro esteve na feira com a então ministra da Agricultura Tereza Cristina. Na ocasião, ele foi ovacionado ao usar o evento como palanque político e anunciar a suplementação de recursos para o crédito agrícola na safra vigente.


O comunicado dos organizadores


“Em virtude de toda a repercussão gerada pela cerimônia de abertura da 2ª edição da Agrishow, as entidades realizadoras do evento (ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, ABIMAQ – Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos, ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos, FAESP – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo e SRB – Sociedade Rural Brasileira), optaram por não realizar solenidade de abertura da feira, prevista para o dia 1º de maio, às 11h..


A Agrishow mantém a sua tradição de ser a principal vitrine do setor apresentando o que há de mais moderno em tecnologia para o agronegócio, soluções para pequenas, médias e grandes propriedades, estimulando a realização de negócios.


Reiteramos o convite para que mantenha a sua agenda de visita ao evento para conhecer as inovações que estão ampliando a competitividade e desenvolvimento do setor.”

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