A reunião que vai decidir a nova taxa básica de juros da economia nesta quarta-feira (2) traz uma estreia: o ex-número 2 do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, o novo diretor de Política Monetária — área chave para o embasamento técnico à decisão sobre juros.
O anúncio ocorrerá no início da noite. Em comum, os analistas do mercado financeiro têm a expectativa de redução na taxa atual de 13,75% ao ano. A dúvida é se o Banco Central (BC) fará um corte de 0,25 ou de 0,5 ponto percentual.
Gabriel Galípolo faz parte da primeira leva de indicados de Lula à cúpula da autarquia, junto com o servidor de carreira Ailton Aquino, novo diretor de Fiscalização. Ambos devem introduzir a visão do governo no colegiado.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, integrantes do Executivo e o próprio presidente vêm repetindo críticas à elevada taxa de juros.
Quando Galípolo passou pela sabatina do Senado, ele argumentou que a “necessária” discussão técnica sobre os movimentos econômicos do país não pode “interditar” o debate público. Ele é visto como um possível sucessor do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em 2025 (veja abaixo o fim do mandato de cada um dos integrantes).
— Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática e dos seus representantes eleitos, que são os senhores — disse, naquele momento, aos senadores.
Galípolo não vai “virar a mesa”
Na reunião do Copom de junho, apesar de ter mantido a Selic em 13,75%, o Banco Central sinalizou que poderia iniciar o corte no encontro desta quarta-feira. Na divulgação da Ata, o BC afirmou que havia uma “avaliação predominante” entre os integrantes do colegiado de que “a continuação do processo desinflacionário em curso pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
Na Fazenda, internamente, a avaliação é que a queda dos juros já poderia ter ocorrido a partir dos indicadores macroeconômicos positivos, como inflação e a melhora da perspectiva fiscal. Por outro lado, é negado que o objetivo da indicação de Galípolo ao BC foi ‘virar a mesa’ do Copom.
A atuação dele, segundo um integrante do ministério, será baseada em “dados objetivos” sobre a economia.
Há a tentativa de afastar a ideia de rivalidade entre governo e Banco Central. É citado que antes do BC indicar o corte de juros, a defesa na redução já encontrava coro entre representantes do varejo e grupos empresariais. Portanto, nessa premissa, não foi só o governo que fez contraponto às últimas decisões do Copom.
Nos bastidores também é mencionado que a queda da Selic já foi defendida, esta semana, pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro.
Decisões unânimes até agora
Até meados de julho, a composição dos integrantes do Banco Central estava unicamente com nomes indicados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e nomes que já estavam no corpo de diretores e foram reconduzidos também pela gestão anterior.
Até o momento, as decisões sobre juros da autarquia vêm seguindo uma trajetória de unanimidade. A única exceção foi em setembro do ano passado. Os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Renato Gomes (Sistema Financeiro) votaram pela elevação de 0,25 pontos percentuais, enquanto a maioria decidiu pela manutenção da taxa de 13,75%, na época.
Mais recentemente, o BC também ficou dividido – desde vez sobre a sinalização da queda de juros em agosto. A maioria estava observando espaço para cortes, enquanto um grupo menor estava com uma perspectiva mais conversadora.
Composição:
A Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne a cada 45 dias para analisar o cenário econômico e definir a taxa que valerá até a próxima reunião. Veja a atual composição do Copom:
Roberto Campos Neto – Presidente do BC – com mandato até dezembro de 2024;
Fernanda Magalhães Rumenos Guardado – Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos – com mandato até dezembro de 2023;
Maurício Costa de Moura – Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta – com mandato até dezembro de 2023;
Carolina de Assis Barros – Diretora de Administração – com mandato até dezembro de 2024;
Otávio Ribeiro Damaso – Diretor de Regulação – com mandato até dezembro de 2024;
Diogo Abry Guillén – Diretor de Política Econômica – com mandato até dezembro de 2025;
Renato Dias de Brito Gomes – Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução – com mandato até dezembro de 2025;
Gabriel Muricca Galípolo – Diretor de Política Monetária – com mandato até março de 2027;
Ailton Aquino dos Santos – Diretor de Fiscalização – com mandato até março de 2027.
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