Grupos de mídia e de publicidade franceses pedem à Apple que suspenda novo recurso do iOS 18

Representantes de grupos de mídia e de distribuição de publicidade da França estão pedindo que a Apple suspenda seu novo recurso, chamado de “controle de distração”. Eles argumentam que a nova ferramenta do iPhone pode prejudicar sites e anúncios.


As entidades afirmam em uma carta que estão “analisando ativamente todos os recursos legais disponíveis”.


Um grupo de associações comerciais francesas, que representa cerca de 800 empresas dos setores de publicidade e mídia, enviou uma carta aberta ao CEO da Apple, Tim Cook, pedindo que a gigante de tecnologia suspenda a implementação do novo recurso.




O controle de distração, que ficou disponível em alguns países com o iOS 18 em setembro, permite que os usuários do navegador Safari ocultem elementos em páginas da web, como imagens, “pop-ups” (propagandas que surgem na tela) e outros anúncios.


O navegador também se lembra dessas escolhas quando o usuário revisita a página — embora a Apple afirme que não oculta permanentemente elementos de sites que mudam frequentemente, incluindo anúncios.


Na carta, que foi enviada na última quinta-feira, 17, os grupos comerciais franceses listam três preocupações principais sobre o recurso, após terem testado as versões beta e pública.


Risco de não conformidade com regulação

Eles levantaram preocupações sobre a possibilidade de os usuários ocultarem a tecnologia que ativa os pop-ups de consentimento de cookies. A omissão do aviso na tela poderia colocar os proprietários de sites em risco, já que a tecnologia impediria o aviso de aparecer e esbarraria na inconformidade com a regulação de proteção de dados da Europa.


Isso também poderia prejudicar a receita dos editores, diz a carta. As empresas de mídia europeias estão cada vez mais pedindo aos usuários que aceitem receber anúncios personalizados — que são geralmente mais lucrativos do que anúncios não segmentados — ou paguem para acessar o conteúdo, via assinaturas.


Os grupos comerciais franceses também afirmam que, durante os testes, descobriram que os anúncios em certos sites foram ocultados depois da escolha do usuário. A carta diz que isso representa “uma ameaça existencial ao modelo de publicidade online, que sustenta uma parte significativa da economia da internet”.


Recurso poderia facilitar manipulação de informações

A carta também afirma que, ao permitir que os usuários ocultem qualquer conteúdo em uma página da web — em particular o conteúdo editorial produzido pelos meios de comunicação — o controle de distração poderia alimentar a “manipulação de informações” e sua disseminação pela internet.


O Controle de Distração facilita muito o processo de eliminar determinados conteúdos com um toque, tirar uma captura de tela e compartilhar, disse Pierre Devoize, diretor-gerente adjunto da organização de marketing digital Alliance Digitale, uma das associações que assinaram a carta.


Além da Alliance, a carta foi assinada pela organização da imprensa francesa AIPG, pela associação de publicação online Geste, pelo Sindicato das Agências de Internet, pelo grupo de publicidade União das Marcas e pela Udecam, o sindicato de agências de planejamento e compra de mídia.


Ao pedir a suspensão do lançamento do Controle de Distração, a carta pede que a Apple forneça documentação técnica sobre suas funcionalidades e quaisquer atualizações planejadas.


Os grupos afirmam na petição que estão “considerando ativamente todos os recursos legais disponíveis” relacionados à proteção de dados, liberdade de imprensa, direitos de propriedade intelectual, leis de direitos autorais e marcas registradas, além de regulamentação de concorrência.


A carta também foi enviada para vários ministros franceses, como da Economia e de Assuntos Digitais, à autoridade de gestão da concorrência do país (FCA, paralela ao Cade do Brasil) e à Comissão Europeia.


O grupo de editores do Reino Unido, News Media Association, também já havia enviado uma carta à Apple alertando que essa ferramenta ameaçaria a sustentabilidade financeira do jornalismo.

No Brasil, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) começou a fazer testes com a ferramenta e considerou “extremamente preocupante” a iniciativa da Apple, segundo o presidente da entidade, Marcelo Rech.

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