O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o BNDES está devendo dinheiro ao governo, se referindo ao valor que ainda deverá ser devolvido antecipadamente ao Tesouro referente a recursos cedidos ao banco para financiar empréstimos.
Disse ainda que o banco “aplicou uma rasteira” no governo ao procurar o Tribunal de Contas da União (TCU) argumentando que perderia dinheiro ao fazer a devolução antes do prazo definido por contrato.
Guedes explicou que pedir a devolução antecipada integra o esforço de contenção de despesas públicas, frisando que os recursos têm de voltar ao governo porque o Brasil está em “guerra”, em razão dos desafios trazidos pela pandemia, e precisando desse dinheiro.
O ministro, que participou de cerimônia em comemoração aos 70 anos do banco na tarde desta segunda-feira, disse que BNDES devolveu cerca de R$ 240 bilhões, mas “ainda está devendo”.
— E aplicaram uma rasteira na gente. O BNDES teve a coragem de ir ao TCU, dizendo que se devolvesse o dinheiro agora estaríamos impondo uma perda ao banco, que é perigoso, temerário. Ao contrário, estão se beneficiando do subsídio e deveriam estar devolvendo porque o Brasil está em guerra e está precisando desse dinheiro — destacou.
Em uma fala que combinou mordidas e afagos, Guedes destacou que o banco vem “fazendo um brilhante trabalho” por ter já devolvido parte dos recursos à União e estar conseguindo “fazer mais com menos”.
Crítica a investimento em grandes companhias
O ministro voltou a criticar a antiga política de fornecimento de crédito a grandes companhias — como na época da política de campeões nacionais — e frisou que o banco precisa financiar micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).
— O desafio para o BNDES (no atual governo) era extraordinário. Teria de ser mais relevante com menos dinheiro. Por um lado, ia abandonando as características de um hedge funding. Qual o sentido de um banco de desenvolvimento ter ações de Petrobras, da Marfrig, da JBS, de campeões nacionais na carteira? — indagou.
Ele admitiu já ter sido um crítico do banco lá atrás, numa época em que chamava o BNDES de Recreio dos Bandeirantes, “onde os paulistas iam pegar o dinheiro do trabalhador brasileiro”.
E defendeu que a verdadeira vocação da instituição de fomento é atuar nas áreas em que a instituição está à frente hoje, como preservação de ativos ambientais, estruturação de projetos, resolver problemas que impactam diretamente a vida das pessoas, como ampliar serviços de saneamento, construir portos, atuar no transporte. Ele destacou a atuação do BNDES nos processos de privatização da Cedae e da Eletrobras, por exemplo.
Gustavo Montezano, presidente do BNDES, reforçou a guinada na operação do banco, cada vez mais voltado para a estruturação de projetos em infraestrutura — a instituição subiu ao posto de maior do setor globalmente —, do saneamento à educação, e com grande foco em financiar micro a médias empresas, como pedido expressamente por Guedes durante a pandemia.
Na cerimônia foi assinada a renovação do Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI-Peac), que contou com recursos do Fundo Garantidor para Investimentos a micro, pequenas e médias empresas.
— O Peac foi feito por meio de inovação aberta, de forma colaborativa. E é a forma que enxergamos o banco atuando no futuro. Quando criamos a linha, fizemos um levantamento com bancos lá fora para ver o que estavam oferecendo diante da crise da Covid-19. Vimos que tínhamos uma lacuna por não termos um fundo garantidor para os nossos heróis nacionais, que são as MPMEs. Vamos focar nesse segmento, sem tirar o pé do acelerador de concessões e privatizações, que são nossa âncora para sair fora da crise — disse Montezano.
Em sua primeira rodada, o Peac concedeu mais de R$ 92 bilhões em recursos a MPMEs, ampliando em 15% o estoque disponível em recursos de crédito para esse segmento, afirmou o executivo.
Brasil ‘dessincronizado’ da economia mundial
Guedes aproveitou a cerimônia para voltar a dizer que avalia que o processo de ruptura das cadeias de fornecimento globais pode ser uma “oportunidade para o Brasil” em meio à crise mundial em que há grande pressão de custos, aumento da inflação e risco de recessão. Pesa ainda a invasão da Ucrânia pela Rússia.
O ministro diz que o Brasil, na direção contrária da desaceleração experimentada no resto do mundo, contando com R$ 900 bilhões em investimentos contratados para os próximos dois anos. E que o país se destaca como potência em dois eixos de oportunidades: energia e alimentos. Para Guedes, o Brasil está “dessincronizado” da economia mundial.
— Se lá afundar, não é verdade que nós estamos perdidos. Nós temos vitamina para crescer. Nós temos um pipeline grande de investimentos, nossas reformas. Só dependemos de nós. O Brasil é uma economia continental. Pode ter uma dinâmica própria de crescimento.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1% no primeiro trimestre, pouco abaixo do esperado. Apesar dessa alta, a economia ficou no patamar de oito anos atrás e deve perder fôlego no segundo semestre.
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