Lula viaja à China com negócios e planos de paz para a Ucrânia na agenda

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja no domingo (26) à China para uma visita de Estado concentrada em potencializar os negócios com o principal parceiro comercial do Brasil e se alinhar com o contraparte chinês, Xi Jinping, para promover planos de paz para a Ucrânia.


A princípio, Lula viajaria no sábado para Pequim, mas uma “pneumonia leve“, diagnosticada na quinta-feira (23), o forçou a adiar sua partida em um dia, informou a Presidência.


O presidente, empossado em janeiro, prometeu colocar o Brasil de volta no tabuleiro geopolítico internacional, após o isolacionismo de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).




Sua agenda oficial começa na terça-feira com um encontro com Xi.


Lula pretende apresentar ao homólogo chinês sua proposta para criar um grupo de países mediadores sobre a guerra na Ucrânia, que lançou em janeiro, ao mesmo tempo em que se recusou a enviar munições a Kiev porque o Brasil, afirmou, é um país “de paz”.


Segundo o governo federal, a China é um aliado importante desta iniciativa.


Lula quer posicionar o Brasil como um facilitador do diálogo multinacional na Ucrânia, emulando, assim, sua mediação nos acordos nucleares entre o Irã e os Estados Unidos durante seu segundo mandato (2007-2010).


A China, por sua vez, promove uma proposta de paz de 12 pontos, que Xi discutiu esta semana, em Moscou, com seu contraparte russo, Vladimir Putin, e que inclui um apelo ao diálogo e o respeito à soberania territorial de todos os países.


Putin expressou um apoio prudente, enquanto as potências ocidentais acusam Pequim de dar um respaldo tácito à intervenção armada de Moscou.


Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, conversará com Xi sobre vias para um “retorno à paz” na Ucrânia, durante a visita de Estado que ele fará à China entre 5 e 8 de abril, informou o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, nesta sexta-feira (24).


Investimentos chineses

Lula chegará a Pequim com uma numerosa comitiva empresarial e ministerial.


“A visita de Lula é uma sinalização muito clara de que se quer um diálogo bilateral de altíssimo nível”, diz à AFP Evandro Menezes de Carvalho, especialista em China da Fundação Getúlio Vargas.


Bolsonaro visitou a China durante seu mandato (2019-2022), mas a relação bilateral esfriou depois que o então ocupante do Palácio do Planalto se aliou ao contraparte americano na época, Donald Trump, ao responsabilizar Pequim pela pandemia de Covid-19.


Mesmo assim, o comércio bilateral continuou escalando.


No ano passado, o intercâmbio comercial entre os dois países superou os 150 bilhões de dólares (R$ 780 bilhões, aproximadamente), embora os empresários brasileiros ainda tenham dificuldades em introduzir no mercado chinês bens de maior valor agregado.


O Brasil quer impulsionar “o comércio internacional, visando a diversificação de produtos (…), mas trazer (também) mais investimentos chineses e avançar em outras pautas”, acrescenta Menezes, citando potencialidades na área dos semicondutores, inteligência artificial e trens de alta velocidade.


Com 70,3 bilhões de dólares entre 2007 e 2020 (aproximadamente R$ 360 bilhões), o Brasil é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina (48%), segundo o Conselho Empresarial Brasil-China.


Os principais destinatários destes recursos são os setores de geração elétrica e petróleo, mas também indústria automotiva e máquinas pesadas, mineração, agroindústria e tecnologia da informação.


Quinhentos empresários, a metade brasileiros, sobretudo do agronegócio, participarão de um seminário no dia 29.


O setor conseguiu, na quinta-feira, a suspensão de uma proibição que vigorava desde 23 de fevereiro para a exportação de carnes à China, que tinha sido estabelecida após a detecção de um caso “atípico” do “mal da vaca louca”.


O Brasil é um enorme mercado para as empresas chinesas, como a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei. Além disso, avanços entre os dois países para usar a moeda chinesa, o iuane, no bilionário comércio bilateral, abriria o caminho para uma maior internacionalização da divisa.


“Mais do que com qualquer outro país”, uma relação bem sucedida com o Brasil impulsiona os objetivos econômicos globais chineses, afirma Evan Ellis, especialista em Rússia e China do Center for Hemispheric Defense Studies de Washington.


Sul global

“Mas, não se deve perder de vista o fato de que também há uma associação estratégica que tem a ver com a colaboração do Brasil com a China em uma projeção orientada ao (eixo) sul-sul” global, acrescenta.


Lula priorizou a diplomacia multilateral em seus dois governos anteriores (2003 a 2010) e visitou Pequim três vezes. Em seu primeiro mandato, foi criado o bloco de economias emergentes BRICS, ao qual pertencem Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul.


Lula também vai se reunir na terça com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o presidente da Assembleia Popular, Zhao Leji.


Em Xangai, o presidente visitará o banco de desenvolvimento dos BRICS (NDB), juntamente com sua afilhada política, a ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), que foi nomeada nesta sexta para a presidência da instituição.


O presidente encerrará seu giro internacional com uma visita aos Emirados Árabes Unidos entre 31 de março e 1º de abril.

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