Após a terceira mudança em sua equipe da defesa, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), prestou quase 24 horas de depoimentos a agentes da Polícia Federal em menos de uma semana. O militar, que deixou a sede da PF na na noite desta quinta-feira, foi ouvido no âmbito de dois inquéritos: um que apura a suposta contratação de serviços do hacker Walter Delgatti Netto para invadir urnas eletrônicas e outro sobre o caso dos conjuntos de joias recebidos por Bolsonaro e familiares na época da Presidência.
Próximo a Bolsonaro, Cid foi preso preventivamente em maio durante operação que mirava outro escândalo, sob a suspeita de integrar um esquema de falsificação de cadernetas de vacinação que teria beneficiado o ex-presidente e seus familiares. Desde então, ele segue detido no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. A postura do ex-ajudante de ordens de se manter em silêncio em depoimentos mudou quando o advogado Cezar Bitencourt passou a comandar a defesa de Cid, no começo de agosto.
Nesta quinta-feira, o ex-ajudante de ordens foi ouvido pelos agentes sobre um suposto esquema de desvio de joias e relógios do acervo público. Pela estratégia da PF, ele prestou depoimento concomitantemente a outros investigados no caso, como o próprio Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef e o pai do tenente-coronel, o general Mauro Lourena Cid.
Enquanto o casal optou por não dar nenhuma declaração aos agentes, Cid e o pai falaram à PF. O ex-ajudante de ordens, que chegou à sede da PF às 9h e começou a ser ouvido por volta de 11h, só encerrou a oitiva mais de 10 horas depois, quando passavam das 21h.
Na última sexta-feira, dia 18, o tenente-coronel foi ouvido na PF por mais de duas horas no âmbito do inquérito que investiga do hacker Walter Delgatti Netto por invasão aos sistemas do Poder Judiciário e por um suposto plano para descredibilizar as urnas eletrônicas. Foi a primeira vez que o tenente-coronel depôs após a troca mais recente de advogados, com a defesa passando às mãos de Bitencourt. O profissional chegou a afirmar que Cid atribuiria a Bolsonaro a ordem para a venda de um relógio Rolex recebido em uma viagem oficial.
Cid voltou a ser interpelado pela PF na segunda-feira, ainda sobre o caso do hacker. Na ocasião, Cid também prestou depoimento por cerca de 10 horas, saindo da sede da corporação em Brasília às 20h. O militar e o advogado não falaram com jornalistas na saída. A soma da duração dos três depoimentos gira em torno das 23 horas, o equivalente a quase um dia inteiro.
De acordo com Delgatti Netto, Mauro Cid teria participado da reunião que a deputada federal Carla Zambelli (PL) promoveu entre ele e Jair Bolsonaro, em agosto do ano passado, no Palácio da Alvorada. O hacker está preso preventivamente por incluir no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), supostamente por ordem da parlamentar.
Ele também contou aos investigadores que teve “vários encontros com Mauro Cid que não estavam na agenda oficial do ex-ajudante de ordens”.
Determinações do chefe
Mauro Cid está há quase quatro meses no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. Ele foi preso preventivamente em uma operação da PF que investiga o militar por fraudes no Sistema Único de Saúde (SUS) para emitir certificados de vacinação contra a Covid-19.
A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que teve uma rápida reunião, na quinta-feira da semana passada, com o advogado Cezar Bitencourt. Ao GLOBO, o criminalista contou que o objetivo do encontro era se apresentar e “se colocar à disposição da Corte”.
Logo que assumiu a defesa de Cid, Bitencourt disse ao GLOBO que o militar pretendia prestar um novo depoimento assumindo as negociações para a revenda do relógio Rolex. Aos investigadores, o militar iria dizer que seguiu as determinações do então chefe e que, inclusive, devolveu a ele em espécie o valor recebido pela joia, segundo o advogado.
Veja também
AVALIAÇÃO
Feitosa comenta sobre segurança em Pernambuco
BLOG DA FOLHA