Presa em Portugal por suspeita de envolvimento em um esquema de tráfico internacional de drogas, a doleira Nelma Kodama deverá passar pelo processo de extradição antes de voltar ao Brasil. A Justiça portuguesa deu às autoridades brasileiras, em decisão desta quinta-feira, o prazo de 18 dias para fundamentar o pedido de extradição.
O pedido já havia sido feito pela embaixada brasileira no país, mas sem apresentar a devida documentação, o que levou ao juiz do Tribunal da Relação de Lisboa a estabelecer o prazo. Segundo o advogado de Nelma Kodama, caso a fundamentação não seja feita no tempo determinado, a doleira pode ser posta em liberdade.
“O pedido foi feito pelo Brasil, mas ele não foi instruído com a documentação. Tendo o prazo de 18 dias, se não apresentarem a documentação, ela pode até ser liberada”, disse o advogado criminalista Adib Abdouni, que defende Nelma Kodama.
Nelma foi detida no âmbito da Operação Descobrimento, deflagrada para combater o tráfico internacional de drogas, nesta terça-feira. Os agentes cumprem mandados em cinco estados brasileiros – Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia, Pernambuco – e Portugal. APF suspeita que a doleira estaria atuando na lavagem de capitais para o tráfico das drogas.
Nelma foi presa em um hotel de luxo em Portugal nesta terça-feira (19). Ela é suspeita de envolvimento em esquema de tráfico internacional de drogas, no âmbito da Operação Descobrimento.
A operação também prendeu o lobista Rowles Magalhães, ex-namorado de Nelma. Ele está detido na Polícia Federal em São Paulo.
A investigada também é ex-namorada do também doleiro Alberto Youssef e ganhou notoriedade por ter sido uma das delatoras da Operação Lava-Jato, pela qual foi condenada a 18 anos de prisão em 2014.
“A Nelma não tem relação alguma com tráfico de drogas, ela só foi presa porque se relacionou por um tempo com o Rowles”, afirmou o advogado. “Pelo que está nos autos e tive acesso, nada vincula a Nelma ao tráfico”, acrescentou Abdouni.
As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador para abastecimento. Após inspeção, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.
A PF identificou a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países. O grupo era composto por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares, transportadores e doleiros, encarregados da movimentação financeira.
As medidas judiciais foram expedidas pela 2ª Vara Federal de Salvador e pela justiça portuguesa. Além de mandados de buscas e apreensão e de prisão preventiva, foram decretados o sequestro de imóveis e bloqueios de valores em contas bancárias usadas pelos investigados.
Nelma foi acusada de atuar em parceria com Youssef em um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou mais de R$ 10 bilhões em valores da época. Depois de cumprir cinco anos de pena por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa — entre o regime fechado e domiciliar —, ela se livrou em 2019 da tornozeleira eletrônica que usou por três anos.
Endividada, a doleira chegou a montar um bazar de peças das grifes mais caras do mundo, quando devia à Justiça mais de R$ 100 milhões em multas pelos crimes de sonegação fiscal, em reparação de danos apurados pela Lava-Jato e impostos retroativos. Nos tempos de milionária, ela movimentava em um único mês cerca de US$ 200 milhões sem documentação.
Nelma foi presa em 2014 no âmbito da Lava-Jato com 200 mil euros na calcinha, quando tentava embarcar no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
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