A semana promete em Brasília. Depois de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ameaçar a instalação de cinco Comissões Parlamentares de Inquérito, em represália à demissão de um primo da superintendência do Incra em Alagoas, o ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha, disse que não existe rompimento de diálogo com Lira.
“Completamente superado. Da minha parte, não tem qualquer rompimento de diálogo. Estou sempre à disposição para conversar”, declarou. A tensão entre o Executivo e o Legislativo aumentou depois que Lira chamou o ministro de “incompetente” e o acusou de espalhar informações falsas.
Em reunião de líderes na semana passada, Lira chegou a cogitar instalar cinco comissões parlamentares de inquérito de uma só vez. Prometeu ainda, segundo líderes partidários, criar um grupo de trabalho responsável pela elaboração de uma reação às operações da Polícia Federal no Congresso.
Um movimento atribuído a Padilha pelo entorno de Lira teria aumentado a irritação do presidente da Câmara e servido de pontapé inicial à ofensiva. Trata-se da exoneração de Wilson César de Lira do comando da Superintendência do Incra, em Alagoas – a demissão era uma das demandas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra desde o ano passado.
A primeira etapa do contra-ataque já se concretizou: a Câmara aprovou um requerimento de urgência para acelerar a tramitação de um projeto contra o MST. De autoria do deputado Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), a proposta restringe o acesso dos sem-terra envolvidos em ocupações de terra a programas sociais do governo.
Segundo relatos, Lira não indicou quais CPIs podem ser instaladas nos próximos dias. A ideia é que os líderes partidários cheguem a um acordo e apresentem uma lista ao presidente da Câmara. Entre os requerimentos com o número necessário de assinaturas estão o da CPI do Abuso de Autoridade, apresentado em meio à ofensiva bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal (STF), e o da comissão destinada a apurar denúncias de tráfico e exploração sexual na Ilha de Marajós (PA).
A instalação dos colegiados em pleno ano eleitoral ligou o sinal de alerta entre integrantes da articulação política do governo, que pretendia focar na aprovação de pautas econômicas. O entendimento é que a ideia de acolher as demandas da oposição tem o objetivo de fustigar o Planalto.