Uma pesquisa divulgada na quinta-feira (27) pelo think tank Pew Research Center, que abrangeu 24 países e ouviu mais de 27 mil pessoas entre fevereiro e maio deste ano, revelou que aproximadamente 67% dos entrevistados têm visões desfavoráveis a respeito da China. Em contraste, menos de 28% dos que foram ouvidos expressaram opiniões favoráveis sobre o país. As informações são da rede Voice of America (VOA).
Nas nações de alta renda, as visões negativas da China são especialmente elevadas, chegando a níveis históricos. A pesquisa se concentrou em várias questões relacionadas ao país e à confiança no seu líder, Xi Jinping, incluindo economias avançadas na América do Norte, Europa Ocidental e Ásia-Pacífico, bem como economias médias na América Latina e África.
De acordo com analistas ouvidos pela reportagem, a visão negativa da China em muitas nações é atribuída à percepção pública de que o país representa uma ameaça aos seus interesses econômicos e sistemas de governança. Além disso, a situação dos direitos humanos no país tem sido percebida como deteriorada desde que Xi Jinping assumiu o poder.
A pesquisa aponta que a maioria das pessoas (76%) acredita que Beijing não leva em conta os interesses de outros países em sua política externa. Além disso, em média, 57% dos entrevistados afirmam que o governo chinês interfere consideravelmente ou em certa medida nos assuntos de outras nações. Em relação à contribuição para a paz e estabilidade globais, 71% consideram que a China não tem um papel significativo nesses aspectos.
As opiniões negativas sobre a China foram mais pronunciadas em países de alta renda, enquanto em nações de renda média, como Brasil, Indonésia e África do Sul, as visões gerais foram um pouco mais otimistas, embora não completamente positivas.
O estudo do Pew Research Center destaca a Índia como o único país de renda média em que a maioria das pessoas tem opiniões desfavoráveis sobre a China, atingindo dois terços dos entrevistados. Em contraste, três países de renda média, Quênia, México e Nigéria, têm uma maioria que avalia a China de forma positiva.
No entanto, mesmo nesses países com opiniões relativamente mais favoráveis, a tendência geral continua sendo negativa em relação à China, com mais pessoas expressando visões negativas do que na pesquisa anterior, realizada em 2019. Por exemplo, na Índia, o percentual aumentou de 46% para 67%. No Brasil, passou de 27% para 48%, e no México, aumentou de 22% para 33%.
Segundo analistas ouvidos pela VOA, as visões negativas sobre a China em muitos países são resultado da percepção pública de que o gigante asiático representa uma ameaça aos seus interesses econômicos e sistema de governança, além da deterioração da situação dos direitos humanos desde que Xi Jinping assumiu o poder.
Segundo Zsuzsa Anna Ferenczy, professora assistente da National Dong Hwa University, em Taiwan, a deterioração dos direitos humanos em Xinjiang – onde a minoria muçulmana uigur é perseguida pelo Estado – e Hong Kong tem levado os países europeus a reavaliar seu relacionamento com a China, buscando medidas para reduzir sua exposição ao país.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo notaram que eventos internacionais significativos podem influenciar a percepção das pessoas em relação a Beijing. “Após o surto da pandemia de coronavírus, registramos um aumento substancial nas visões desfavoráveis da China em muitos países de alta renda”, revelou Christine Huang, pesquisadora associada do Pew Research Center.
Tecnologia, segurança de dados e economia
Apesar das visões predominantemente negativas sobre o país, o progresso tecnológico da China é percebido de forma amplamente positiva.
De acordo com o Pew, em média, 51% das pessoas nos 24 países pesquisados consideram a tecnologia da China como “acima da média” em comparação com outros países ricos, e 19% a veem como a melhor do mundo.
Em relação à privacidade dos dispositivos fabricados na China, as opiniões ao redor do mundo estão divididas. Em média, 45% das pessoas afirmaram sentir que seus dados estavam “seguros” nesses dispositivos, enquanto uma média de 40% considerou que pareciam “inseguros”.
As opiniões sobre a força econômica da China também diminuíram globalmente desde a última pesquisa do think tank, que foi conduzida antes do surto de Covid-19 e da quase implosão de empresas imobiliárias chinesas, como a Evergrande.