As várias ameaças existentes no atual cenário econômico global estão entre as principais preocupações dos participantes do Fórum Econômico Mundial de Davos. O risco de recessão diante do aumento nas taxas de juros foi um dos destaques durante os painéis realizados, nesta segunda-feira (23).
O encontro deste ano ocorre em um contexto de inflação em seu nível mais alto em décadas nas principais economias, incluindo Estados Unidos, Inglaterra e na zona do euro.
Esses aumentos de preços minaram a confiança do consumidor e abalaram os mercados financeiros mundiais, levando bancos centrais, incluindo o Federal Reserve dos EUA, a aumentar as taxas de juros.
Os efeitos nos mercados de petróleo e alimentos da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro e os lockdowns para conter o avanço da Covid-19 na China agravaram o quadro.
“Temos pelo menos quatro crises, que estão interligadas. Temos inflação alta… temos uma crise de energia… temos pobreza alimentar e temos uma crise climática. E não podemos resolver os problemas se nos concentrarmos em apenas uma das crises”, disse o vice-chanceler alemão Robert Habeck, durante um painel de discussão no Fórum.
Ele acrescentou: “Mas se nenhum dos problemas for resolvido, temo que estejamos entrando em uma recessão global com tremendo efeito… na estabilidade global”, afirmou.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) no mês passado cortou sua perspectiva de crescimento global pela segunda vez este ano, citando a guerra na Ucrânia e destacando a inflação como um “perigo claro e presente” para muitos países.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, falando em Davos, nesta segunda-feira, disse que a guerra, as condições financeiras mais apertadas e os choques de preços, principalmente para alimentos, claramente “escureceram” as perspectivas no mês desde então, embora ela ainda não espere uma recessão.
“Não, não neste momento. Isso não significa que está fora de questão”, disse Georgieva sobre a possibilidade de recessão.
Ponto de inflexão
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que falará em Davos na terça-feira, alertou que o crescimento e a inflação estão em caminhos opostos, à medida que as crescentes pressões sobre os preços restringem a atividade econômica e devastam o poder de compra das famílias.
“A guerra Rússia-Ucrânia pode vir a ser um ponto de inflexão para a hiperglobalização. Isso pode levar as cadeias de suprimentos a se tornarem menos eficientes por um tempo e, durante a transição, criar pressões de custo mais persistentes para a economia “, disse ela em um post de blog.
Ela ainda sinalizou para aumentos de juros em julho e setembro para frear a inflação, mesmo que o aumento dos custos de empréstimos deva pesar sobre o crescimento.
Pressão também nos EUA
Embora a pressão econômica da crise na Ucrânia esteja sendo mais sentida na Europa, é a economia dos EUA que está enfrentando as maiores pressões de preços.
O Índice de Preços ao Consumidor disparou de quase zero há dois anos para o maior patamar em quatro décadas em março, quando atingiu 8,5% na base anual.
O Fed respondeu no início deste mês com sua maior alta de juros em 22 anos, e o presidente do banco, Jerome Powell, sinalizou aumentos de magnitude semelhante, 0,50 percentual, em suas próximas duas reuniões, pelo menos.
As taxas mais altas e as expectativas de novas elevações, no entanto, ainda precisam enfraquecer os gastos do consumidor e um mercado de trabalho dos EUA apertado.
“Ainda não estamos vendo isso se materializar em nossos negócios. Continua a haver demanda reprimida”, disse o presidente-executivo da Marriott International, Anthony Capuano, sobre a ameaça de recessão.
E os emergentes?
Os principais mercados emergentes, incluindo a China, ainda devem ter crescimento este ano, mesmo que em um ritmo mais lento do que o estimado anteriormente.
Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, disse que seu banco ainda espera “crescimento robusto” este ano na China, Índia e Brasil.
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