Por que a Stellantis, fabricante de Peugeot, Jeep e Fiat vai trocar CEO e diretoria global?

A Stellantis, gigante automotiva que reúne marcas como Peugeot, Jeep e Fiat, anunciou uma mudança em sua diretoria global na noite de quinta-feira. O movimento — a reboque de um tombo nos lucros da companhia e a desafios globais para o setor — prevê a aposentadoria do CEO, Carlos Tavares, no início de 2026, quando termina o contrato do executivo, além da troca da liderança financeira.


As mudanças aumentam a pressão sobre o executivo de 66 anos para encontrar formas de resolver os tropeços da montadora. Com o mandato de quase cinco anos se aproximando do fim, Tavares terá menos margem para lidar com a queda nas vendas, estoques inchados e uma linha de veículos das marcas Jeep e RAM desatualizada nos EUA.


O Conselho de Administração já está procurando um sucessor para Tavares, cujo contrato acaba em 2026, o que já custa ao executivo parte de sua credibilidade junto a Wall Street que, anteriormente, havia aplaudido o foco em corte de custos do executivo.




Queda em vendas

As mudanças na alta liderança da Stellantis, somando-se a uma lista crescente de saídas de executivos, “provavelmente não acalmarão os nervos dos investidores”, disseram analistas da Bernstein, como Daniel Roeska. Em vez disso, a Stellantis deveria “abordar claramente os erros e desafios” que enfrenta, afirmam eles.


Esses desafios vão muito além das atribuições da diretora financeira Natalie Knight, que entrou na empresa em julho de 2023, e agora está de saída. A Stellantis vem enfrentando queda nas vendas na América do Norte, atrasos no lançamento de novos modelos na Europa, problemas de qualidade, além de ameaça de greves nos EUA e na Itália. Esses retrocessos coincidiram com uma desaceleração mais ampla na demanda por veículos elétricos.


As ações da Stellantis recuaram até 4,8% nesta sexta-feira em Milão, aumentando a queda de 45% acumulada no ano, à medida que as perspectivas da empresa se enfraquecem.


Desafios do setor

Tavares tem mirado em cortes rigorosos de custos para contrabalançar a queda nas vendas e enfrentar a concorrência crescente de fabricantes chineses. Nos EUA, as marcas Jeep, Ram, Dodge e Chrysler enfrentam problemas de qualidade e perda de participação de mercado.


“Durante este período Darwiniano para a indústria automotiva, nosso dever e responsabilidade ética é nos adaptarmos e nos prepararmos para o futuro, melhor e mais rápido que nossos concorrentes, para oferecer mobilidade limpa, segura e acessível”, afirma Tavares no comunicado divulgado ao mercado pela companhia.


Ele frisa que os executivos recém-nomeados “farão valiosas contribuições para a determinação de toda a nossa equipe em enfrentar os desafios futuros”.


Líderes da rede de concessionários da Stellantis nos EUA criticaram o CEO no mês passado por estar liderando o que chamaram de “degradação rápida” das marcas da montadora. Os varejistas acusaram Tavares de “decisões de curto prazo” que aumentaram os lucros no ano passado e inflaram a compensação do CEO.


As decisões, porém, acabaram encolhendo a participação de mercado da empresa e prejudicando suas marcas, disse o Conselho Nacional de Concessionários em uma carta aberta a Tavares, em 10 de setembro.


Embora o anúncio da Stellantis tenha citado apoio “unânime” ao CEO, o conselho já começou a procurar um substituto para assumir o lugar de Tavares a partir do fim do contrato dele com a companhia, no início de 2026. O presidente do colegiado, John Elkann, está liderando o comitê especial que supervisiona esse processo, previsto para ser concluído no fim do próximo ano. A Exor NV, empresa holding da família de Elkann, é a maior acionista da Stellantis.


Polêmica sobre resultados

Knight, a diretora de Finanças que será substituída por Doug Ostermann, enfrentou críticas sobre um alerta de lucros em 30 de setembro que fez as ações despencarem. O aviso veio uma semana depois de ela ter caracterizado a meta de margem da empresa para o ano como “ambiciosa”.


Ela foi a primeira executiva a inicialmente soar o alarme sobre as expectativas da Stellantis durante uma teleconferência com analistas em 30 de abril. Embora as ações já estivessem em uma tendência de queda antes desse evento, esse recuo se acelerou a partir daquele ponto.


Uwe Hochgeschurtz, que atuava como diretor de operações da região da Grande Europa, também deixará a empresa. A Stellantis fez mudanças em sua liderança na América do Norte e no topo das marcas Maserati e Alfa Romeo. As mudanças ocorreram após o conselho de diretores da Stellantis realizar uma reunião de dois dias nos EUA esta semana.


Antonio Filosa, que liderou os avanços da companhia na América do Sul, com aumento em faturamento e participação de mercado, vai assumir o assento de CEO América do Norte, substituindo Carlos Zarlenga, cuja nova posição ainda não foi divulgada.


A Bloomberg informou na quarta-feira que Tavares estava planejando uma reestruturação na gestão em resposta aos problemas da montadora.


O alerta feito sobre lucros incluiu uma projeção de fluxo de caixa livre industrial no pior cenário de negativo €10 bilhões (US$ 10,9 bilhões) — um tombo em relação à orientação anterior, que era de resultado positivo. Os analistas rebaixaram as ações e disseram que a magnitude dos cortes levou à perda de credibilidade da alta administração da companhia.

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