Cerca de 4 mil famílias rurais de 60 municípios do Nordeste e de Minas Gerais, boa parte delas formadas por pequenos agricultores, serão beneficiadas com sistemas individuais e comunitários de energia solar fotovoltaica. A iniciativa inédita de produção descentralizada de energia faz parte do Programa Um Milhão de Tetos Solares (P1MTS), concebido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).
O número de famílias beneficiadas, na verdade, diz respeito apenas ao projeto-piloto da ASA, rede formada por mais de três mil organizações da sociedade civil de distintas naturezas que defende, propaga e põe em prática, inclusive com políticas públicas, o projeto político da convivência com o Semiárido. A ideia, como consta no próprio nome do programa, é chegar a um milhão de lares beneficiados a longo prazo.
A ASA estima um investimento de R$ 78,9 milhões para tirar o P1MTS do papel. O orçamento inclui o custeio com seleção e cadastramento das famílias, capacitação dos beneficiários e técnicos, recursos humanos, visitas de intercâmbios, produção agroecológica, ações de controle social, gestão e acompanhamento.
Capacitação
No período de 18 meses, a iniciativa prevê também a criação de dez fábricas-escolas para a produção dos painéis solares e outros componentes, e a capacitação de 200 jovens eletricistas. A ASA já se reuniu com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Fundação Banco do Brasil em busca de financiamento para o projeto, que está em processo de análise.
As usinas fotovoltaicas comunitárias são fundamentais para ampliar e dinamizar espaços agroecológicos de produção de alimentos, uma vez que garantem o funcionamento de sistemas de irrigação para cultivos em hortas, pomares e quintais produtivos, para criação de animais e estruturação de unidades de beneficiamento e estocagem de produtos agropecuários.
De acordo com o assessor de coordenação da ASA, Giovanne Xenofonte, as mudanças climáticas estão dificultando cada vez a produção de alimentos no Semiárido. Esse programa, que permite que as famílias tenham acesso à energia limpa e a de baixo custo, faz com que elas tenham a melhores condições de produzirem seus alimentos.
Com essa energia, disse ele, essas famílias teriam condições de instalar pequenos sistemas de irrigação e de produção de alimentos nos seus quintais e também teriam de instalar pequenas unidades de processamento e beneficiamento da produção.
“Óbvio que isso tudo também vem acompanhado de um processo de conscientização ambiental, já tão difundida pelo Semiárido, como cultivo de sistemas agroflorestais, práticas de recaatingamento, todo um sistema de produção agroecológico que a gente vem trabalhando junto com essas famílias durante esse tempo de existência da ASA”, complementou Xenofonte.
A proposta do P1MTS foi amadurecida depois de a ideia ter sido colocada para análise dos 500 delegados da ASA, 70% deles agricultores, durante a programação do Encontro Nacional da ASA (EnconASA) – espaço de debate no qual se discutem políticas públicas para o desenvolvimento e a promoção do bem-viver dos povos da região semiárida dos estados atendidos pela ASA (Nordeste e Minas Gerais) –, realizado em novembro, em Piranhas (AL).
Consumo
Dados do setor elétrico indicam que as famílias brasileiras consomem em média 152,2 kWh/mês de energia para uso doméstico e produção, ao custo médio mensal de R$ 180. Considerando que boa parte dos que vivem no Semiárido está dentro do perfil de pobreza definido pelas regras do CadÚnico, esse gasto com a conta de luz pesa no orçamento doméstico.
Com o P1MTS, serão instalados de quatro a seis painéis solares no telhado de cada casa capacidade de cerca de 550 Watts por painel, além de inversor de 3KW. A estrutura permite uma geração média inicial por unidade familiar de, pelo menos, 300 kWh/mês. O que pode levar a um aumento de 97,1% na média de consumo atual, proporcionando às famílias maior conforto doméstico, com uma economia que pode chegar a 95% no fim do mês.
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