Em entrevista, hoje (23) pela manhã, no programa Folha Política, da Rádio Folha FM 96,7, comandado por Neneo Carvalho, a deputada estadual eleita Rosa Amorim (PT) falou sobre os desafios que enfrentará no seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Com 25 anos, Rosa, parlamentar mais jovem eleita para a Alepe no pleito deste ano, é filha de assentados da reforma agrária e cresceu nas fileiras do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Caruaru, no Agreste do estado.
Na entrevista, concedida à subeditora de política da Folha de Pernambuco, Carol Brito, e ao repórter Carlos André Carvalho, a deputada também falou, entre outras coisas, sobre as pautas que vai defender e os desafios que enfrentará durante o mandato, as ações do MST e de como será sua relação com a govenadora eleita Raquel Lyra (PSDB).
Campo e cidade
Acho importante dizer que eu represento uma grande parcela do povo do campo, a agricultura familiar camponesa, mas também nós construímos essa candidatura muito vinculada também à cidade, às questões urbanas. Então, eu posso dizer que há uma síntese na nossa candidatura e desafios que estão aí entre o campo e a cidade. E algo que unifica esses dois lugares, que para nós levamos e vamos levar como pauta principal é o combate à fome nesse país.
Pautas para a Alepe
Nós achamos que nesse momento o Brasil precisa tomar o combate à fome como prioridade, em nível nacional e estadual. Nós queremos apresentar nosso primeiro projeto de lei que seja um combate emergente à fome. No País, temos mais de 30 milhões de brasileiros que passam fome ou estão em situação de segurança alimentar e aqui temos dois milhões de pernambucanos que estão passando fome ou não sabem se vão fazer as três refeições diárias. Então, a princípio, queremos trabalhar nessas pautas.
Adversidades na Alepe
Nós vamos ter desafios políticos muito grandes porque temos campos opostos muito divergentes, mas acho que é importante dizer que vamos sobretudo prezar por um diálogo porque queremos, mais do que tudo, fazer com que as políticas públicas que visem melhoramento do bem estar social do estado esteja em primeira ordem. Para isso, é importante a gente ter mediações nesse cenário.
Governo Raquel
Eu não vou agir de forma individual. Nós vamos agir enquanto bloco, principalmente do Partido dos Trabalhadores, da Frente Popular de Pernambuco. Também queremos avançar nesses diálogos e, mais do que tudo, é importante dizer: nós estávamos em campos diferentes: no primeiro estávamos fazendo a campanha de Danilo (Cabral); no segundo, estávamos com Marília (Arraes). Não fui eleitora de Raquel, e em algum momento os palanques terão que ser defeitos para a gente ter uma conversa sobre o nosso estado.
Tipo de oposição
Nós não vamos estar na base do governo, estamos nessa conversa: qual o tipo de oposição que vamos fazer ao governo do estado, mas mais uma vez, gosto de dizer, é importante, sim, a mediação, o diálogo. Em nenhum momento no segundo turno fizemos ataques pessoais a Raquel (Lyra). A gente respeita muito o seu legado político, especialmente na cidade de Caruaru, que é minha cidade natal, o meu colégio eleitoral. Nós reconhecemos a trajetória política da governadora eleita e queremos dialogar.
Ações do MST
Desenvolvemos aquilo que o estado não fez, principalmente em nível nacional, mas também estadual no combate à fome no momento mais difícil do país, que foi o acirramento de uma crise sanitária, econômica e política. Construímos uma campanha de solidariedade, que foi a mais importante do estado e também com uma referência nacional, Mãos Solidárias. Em nível nacional, a gente distribuiu mais de dez toneladas de alimentos para ajudar o povo a enfrentar a fome.
MST em Pernambuco
Em nível estadual foram mais de mil toneladas distribuídas com campanhas muito grandes, como o Natal sem fome, que vamos replicar este ano. Construímos nove cozinhas solidárias, que tiveram seu aumento no momento das enchentes. Nós queremos, inclusive, transformar esse projeto das cozinhas solidárias em restaurantes populares que abarquem as grandes e médias cidades do estado. E também esse processo que para nós, vinculado à fome, pode agir em muitas vertentes, a principal delas é quem produz a comida. A gente não vai erradicar a fome no estado se não tiver o cuidado com quem produz essa comida. É preciso incentivar os programas de distribuição da agricultura familiar e também o processo de geração de emprego e renda no nosso estado e também para diminuir a pobreza precisa movimentar economicamente nosso estado.
Frente ampla
O campo democrático do Brasil foi muito maduro nessa eleição. Nós nunca construímos uma frente ampla ou amplíssima para barrar um projeto que era o que estava colocado, nitidamente antidemocrático, antipopular, que tinha na sua base o racismo, o genocídio, a violência contra as mulheres. Então, nós conseguimos construir da esquerda à direita ao centro uma unidade para conseguir barrar isso. Acho que nós estamos de parabéns, e essa mesma frente ampla está agora atuando em um processo de reconstrução do nosso país e da nossa democracia.
Esquerda local
Aqui em Pernambuco, temos um cenário muito peculiar. Obviamente, ele se repetiu no segundo turno, que foi muito importante. Tivemos aí canalizado na candidatura de Marília Arraes um apoio amplo no segundo turno, que não foi vitorioso, mas que foi importante para essa recomposição da esquerda, mas quero dizer 2024 acho que vai ser uma construção desse período. Eu não arrisco dizer como estará a composição da nossa esquerda, mas arrisco dizer que eu acho que o PT está vivendo um momento muito importante, haja vista o presidente que foi eleito e está também, de forma interna, buscando um processo de crescimento, crescimento das suas bases. Eu arrisco dizer que é possível sim o PT lançar uma candidatura própria para disputa da prefeitura do Recife.
Cultura
A cultura brasileira está em crise. A gente coloca a cultura em três dimensões: não adianta só ter uma resistência na parte simbólica, na parte cidadã se não tem um orçamento para um incentivo nessas duas áreas. A extinção do Ministério da Cultura, todo o corte no orçamento nacional de mais de 90% do governo Bolsonaro para a cultura fez com que os estados ficassem de mãos atadas. Então, eu avalio também essa crise muito vinculada a uma falta de abastecimento econômico para o setor cultural, e nós vamos ter um grande desafio. Eu sou muito otimista, porque a gente já tem um indicativo do presidente Lula de que vai ser recomposto o Ministério da Cultura, inclusive com nomes muito importantes da área. Meu mandato estará à disposição da classe artística e dos fazedores e trabalhadores da cultura do nosso estado.
Ataque
O Centro de Formação Paulo Freire, escola de formação do MST, sofreu uma ação organizada pelos bolsonaristas com um viés fascista. O centro foi pichado com a palavra “mito” e a suástica nazista. Esse caso já está na mão do estado e também investigado em nível nacional, porque isso é uma ameaça ao estado democrático, é um crime nacional. Esses caras, se descobertos, podem pegar de sete a 15 anos de prisão. E não foi só a pichação atearam fogo na casa da coordenadora do centro. Precisamos ter uma intervenção para que casos como esses não sejam naturalizados e que a gente não tenha a intensificação da violência política no país.
Menos mulheres na Alepe
É uma consequência do momento político que a gente vive, porque a gente tem uma extrema direita, grupos conservadores que propagam mensagens de ódio, mensagens que ferem a capacidade das mulheres de estarem na política, discursos que reforçam que lugar de mulher é na cozinha, ao lado do homem, que as mulheres não devem estar e exercer seu papel na política. Isso faz com que as pessoas olhem para essas candidaturas de forma duvidosa porque acabam colocando para a sociedade que as mulheres não são capazes de estarem nesses espaços. Por outro lado, a gente vê o crescimento de candidaturas de mulheres, e mais do que candidaturas de mulheres, mais mulheres negras também se colocando nesse espaço.
Representação feminina
Existe na sociedade uma polarização das ideias. Então, nós tivemos sim perda política nesse lugar no legislativo, mas acho importante colocar que nós elegemos, pela primeira vez na história de Pernambuco, uma senadora mulher, professora, sindicalista, que passou por cinco mandatos na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Pela primeira vez na história, Pernambuco elegeu uma governadora e que tem como vice uma mulher. Portanto, no peso da balança Pernambuco avançou no que diz respeito à participação das mulheres na política. Mas, obviamente, teremos muitos desafios, porque não basta ser mulher, é importante defender pautas que visam cada vez mais a luta contra o feminicídio, a luta contra o aumento da violência às mulheres. Vamos fazer o possível para que essas mulheres da Alepe também defendam as nossas pautas.
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