O Relógio do Juízo Final, criado em 1947 para simbolizar a proximidade da humanidade de uma destruição global, foi ajustado para 89 segundos antes da meia-noite, o menor intervalo registrado na história. O anúncio foi feito pelo Boletim dos Cientistas Atômicos (BPA, na sigla em inglês), organização baseada em Chicago encarregada da medição, e reproduzido pela agência Reuters.
Entre os fatores que justificaram a decisão estão o aumento do risco nuclear, a intensificação das mudanças climáticas e os avanços preocupantes na inteligência artificial (IA), segundo Daniel Holz, presidente do Conselho de Ciência e Segurança da entidade. “Os desafios não são novos, mas o progresso em enfrentá-los tem sido insuficiente, levando a efeitos cada vez mais negativos e preocupantes”, afirmou.
A guerra na Ucrânia, que trouxe de volta à Europa o pior conflito desde a Segunda Guerra Mundial, é um dos principais elementos de risco. “O conflito pode escalar para o uso de armas nucleares a qualquer momento, seja por decisão precipitada ou erro de cálculo”, alertou Holz.
Em novembro, o presidente russo Vladimir Putin reduziu o limite para o uso de armas nucleares, aumentando o alerta global. A decisão estabeleceu que qualquer ataque massivo contra a Rússia, mesmo com armas convencionais, pode ser interpretado como uma agressão conjunta caso envolva uma potência nuclear mesmo que indiretamente.
A saída da Rússia de importantes tratados de controle de armas, como o Novo Tratado START, que expira em 2026, é outro sinal de alerta. “Agressões nucleares e a recusa em discutir novos acordos são sinais alarmantes de risco crescente”, disse Holz.
Além da Ucrânia, outras regiões do mundo foram apontadas como potenciais pontos de instabilidade. Tensões envolvendo China e Taiwan, a Coreia do Norte e a guerra no Oriente Médio são exemplos de situações que podem evoluir para conflitos envolvendo potências nucleares.
O impacto da inteligência artificial no setor militar também foi destacado. “Avanços em IA começam a aparecer nos campos de batalha, e a possibilidade futura de aplicações nucleares é preocupante”, afirmou Holz, que também mencionou os impactos da tecnologia na disseminação de desinformação, agravando a instabilidade global.
O clima é outro fator que contribui para a gravidade do cenário. Segundo Holz, 2024 foi o ano mais quente da história, e eventos climáticos extremos, como tempestades e incêndios, continuam aumentando. Apesar dos avanços em energia renovável, o mundo ainda está longe de mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas.
Para reverter esse cenário, o BPA apelou para o diálogo internacional e destacou a responsabilidade das principais potências nucleares. “Os Estados Unidos, a China e a Rússia têm o dever de afastar o mundo do abismo”, declarou Holz.
O Relógio do Juízo Final foi criado após a Segunda Guerra Mundial por cientistas como Albert Einstein e J. Robert Oppenheimer. Ele permanece um dos principais símbolos de alerta sobre os riscos existenciais enfrentados pela humanidade.