Tráfico de vida selvagem é um dos crimes mais lucrativos do mundo e tem o Brasil entre os protagonistas

O comércio ilegal de animais movimenta tanto dinheiro que “é quase impossível obter números confiáveis”, de acordo com a ONG WWF (Fundo Mundial para a Natureza, da sigla em inglês), que fala em um mercado de “bilhões de dólares”. A Interpol, por sua vez, coloca a atividade entre os crimes mais praticados e lucrativos do mundo, levando muitas espécies à beira da extinção. E o Brasil aparece entre os protagonistas, como importante fornecedor de espécies para outras nações.

“O Brasil e a África ocupam posição central no fornecimento de animais”, disse em entrevista recente à ONU News o delegado e ambientalista brasileiro Guilherme Dias, chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná. “O trafico de animais é muito mais amplo do que simplesmente ter o animal em casa”, acrescenta.

Se os dados globais são incertos, existe uma estimativa de quanto o tráfico de vida selvagem movimenta no Brasil: US$ 2 bilhões anuais, de acordo com a Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), uma Organização Social Civil de Interesse Público (OSCIP). A entidade afirma que, anualmente, 38 milhões​ de animais silvestres são retirados da natureza brasileira.

Duas araras azuis no Mato Grosso do Sul, em agosto de 2011 (Foto: Fernando Stankuns/Flickr)

“Segundo dados da ONU (Organização das Nações Undias) e de algumas outras organizações, o tráfico de animais ocupa o terceiro lugar no ranking de atividades criminosas mais lucrativas do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas”, afirma Dias, acrescentando que tais ações “acabam fragilizando, e muito, a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas”.

O delegado cita alguns dos animais mais buscados no Brasil de forma ilegal. “O tráfico de barbatanas para servir à culinária é muito presente, o tráfico de rãs amazônicas venenosas, utilizadas para pesquisa e para fins estéticos, em virtude do seu veneno, também é muito presente. O tráfico de araras. Veja que existem muitas araras que são levadas, os ovos dessas araras em coletes nos aeroportos para que esses animais sejam destinados ao tráfico internacional.”

Episódios recentes ilustram as alegações do especialista. Em 2021, um dos maiores traficantes de animais do mundo, o russo Kyrill Kravchenko, foi preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) em território brasileiro. A primeira delas no Aeroporto Internacional de Cumbica, no estado de São Paulo, quando passava pelo raio-X com destino a San Petersburgo, na Rússia

A Agência Brasil, que relatou a ocorrência, diz que ele “pretendia vender mais de cem animais silvestres vivos, como lagartos e sapos de espécies diversas, aranhas e peixes, acondicionados em garrafas e potes de plástico”. Como permaneceu em liberdade, o russo voltou a realizar a atividade criminosa e foi mais uma vez detido no Brasil em junho, sendo posteriormente condenado a mais de 11 anos de prisão.

Já em 2023, no mês de junho, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) realizou uma megaoperação que resultou na apreensão recorde de 28,7 toneladas de barbatanas de tubarão provenientes da pesca ilegal em duas empresas exportadoras no Brasil. O destino do produto era a Ásia.

Em termos globais, a ONU afirmou em um relatório recente que apreensões realizadas entre 2015 e 2021 indicam que comércio ilegal se estende por 162 países e territórios, afetando cerca de quatro mil espécies de flora e fauna. “Aproximadamente 3,25 mil dessas espécies estão listadas na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES)”, diz o documento.

Ghada Waly, diretora-executiva do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), endossa a firmação do delegado Dias e destaca o tamanho do dano ambiental. “Os crimes contra a vida selvagem causam danos incalculáveis à natureza e também ameaçam os meios de subsistência, a saúde pública, a boa governança e a capacidade do nosso planeta de combater as mudanças climáticas”, disse ela em maio, por conta da divulgação do relatório.


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