Trump amplia ameaça de aumento de tarifas para China e União Europeia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ampliou suas ameaças tarifárias para incluir a China e a União Europeia em seu segundo dia de volta à Casa Branca, após ter direcionado seu foco ao Canadá e ao México no primeiro dia no cargo.


— Estamos falando de uma tarifa de 10% sobre a China, com base no fato de que eles estão enviando fentanil para o México e o Canadá — disse Trump durante um evento na Casa Branca na terça-feira, especificando 1º de fevereiro como uma possível data.


— Outros países também são grandes abusadores, você sabe, não é só a China. Temos um déficit de US$ 350 bilhões com a União Europeia- . Eles nos tratam muito, muito mal, então eles também terão tarifas — acrescentou Trump.




As ameaças ecoam comentários feitos durante a campanha de Trump para retornar à Casa Branca e desde sua ampla vitória em 5 de novembro.

No entanto, a única ação concreta até agora é o pedido de uma revisão das práticas comerciais, com prazo até 1º de abril, possivelmente dando à China e outros países quase 10 semanas para evitar novas tarifas ou atender às demandas do presidente americano.


O governo da China reiterou sua oposição às tarifas, com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, afirmando na quarta-feira que não há vencedores em uma guerra comercial, acrescentando que a China protegerá seus interesses nacionais.


Na terça-feira, o vice-primeiro-ministro chinês Ding Xuexiang disse que a China ampliará suas importações, afirmando que o país não busca um “superávit comercial”, alertando também que “não há vencedores” em uma guerra comercial.


— O protecionismo não leva a lugar nenhum. [Uma] guerra comercial não tem vencedores — disse Ding Xuexiang ao discursar no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça.


De acordo com a CNBC, o vice-primeiro-ministro iniciou seu discurso referindo-se amplamente ao pronunciamento do presidente chinês Xi Jinping em Davos em 2017, que ocorreu poucos dias antes de Trump assumir a Casa Branca para iniciar seu primeiro mandato. Na ocasião, Xi afirmou que “buscar o protecionismo é como se trancar em um quarto escuro. O vento e a chuva podem ficar do lado de fora, mas também a luz e o ar.”


Presidente da China, Xi Jinping - Foto: Ernesto Benavides/AFPFoto: Presidente da China, Xi Jinping – Foto: Ernesto Benavides/AFP


A Bloomberg News informou que pessoas familiarizadas com as discussões de Trump sobre a China disseram que ele está interessado em abrir negociações com o país.


Na segunda-feira, o primeiro dia de seu novo mandato, Trump não ordenou tarifas específicas contra a China, embora tenha dito que pretendia impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México — ambos vizinhos e aliados próximos dos EUA — até 1º de fevereiro. Isso impulsionou os ganhos das ações asiáticas na terça-feira.


Volatilidade no mercado

As ações chinesas caíram na quarta-feira após os comentários mais recentes de Trump, com o índice de referência CSI 300 registrando sua primeira queda em cinco dias e o índice Hang Seng China Enterprises sendo o pior desempenho na Ásia.


Embora o nível de 10% seja menor do que as possíveis tarifas de 60% sobre produtos chineses mencionadas por Trump durante sua campanha, os investidores estão se preparando para mais volatilidade.


—Só vai ficar mais difícil a partir daqui — disse Xin-Yao Ng, diretor de investimentos da abrdn Plc em Cingapura.

— É um lembrete de que Trump fará algo, porque o primeiro dia pode ter dado a alguns a falsa impressão de que ele não faria. Tarifas mais graduais também podem atrasar ou reduzir o impacto do estímulo que o mercado deseja.


Trump, na terça-feira, também reiterou sua ameaça anterior de impor tarifas ao Canadá e ao México, enfatizando que isso não era uma tentativa de forçar a renegociação do acordo de livre comércio entre as três nações, mas sim porque esses países permitiram que imigrantes ilegais e drogas cruzassem para os Estados Unidos.


Não está claro sob qual autoridade legal Trump poderia ordenar a imposição dessas tarifas. Na ação executiva de segunda-feira, ele instruiu os funcionários a “avaliar a migração ilegal e os fluxos de fentanil” do Canadá, México e China e apresentar um relatório até 1º de abril.


Antes de sua posse, havia relatos de que ele estava considerando declarar uma emergência econômica nacional para permitir novas tarifas, mas tal medida ainda não foi anunciada.


“As ações imediatas da administração Trump não levam à imposição de novas tarifas imediatamente, mas o memorando demonstra um esforço claro e metódico para estabelecer as bases para futuras ações tarifárias e outras medidas”, de acordo com um relatório sobre a ordem executiva do escritório de advocacia Baker McKenzie.


Trump teve como alvo a China de maneira agressiva durante seu primeiro mandato no que diz respeito ao comércio, iniciando um confronto que remodelou as cadeias de suprimentos e a economia global. Trump conversou com seu homólogo chinês Xi Jinping dias antes de sua segunda posse, em uma ligação na qual discutiram comércio, fentanil e o aplicativo de mídia social TikTok, da ByteDance Ltd.


—Não falamos muito sobre tarifas, além de ele saber qual é a minha posição — disse Trump na terça-feira, defendendo sua abordagem sobre o assunto. Veja, eu coloquei grandes tarifas sobre a China. Eu arrecadei centenas de bilhões de dólares. Até eu ser presidente, a China nunca pagou nem 10 centavos aos Estados Unidos — afirmou.


Europa precisa se preparar, diz Lagarde


A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde - Andre Pain/AFPA presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde – Foto: Andre Pain/AFP


A Europa deve “estar preparada” e antecipar as potenciais tarifas comerciais de Trump, alerta a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, em entrevista à CNBC nesta quarta-feira, acrescentando que o fato de o presidente dos EUA não ter imposto tarifas generalizadas no primeiro dia de seu novo mandato foi uma “abordagem muito inteligente… porque tarifas generalizadas não necessariamente dão os resultados que você espera.”


Lagarde disse esperar que as tarifas de Trump sejam “mais seletivas e focadas” e que a Europa precisar estar preparada e antecipar o que vai acontecer para poder dar uma resposta.


Já o comissário da União Europeia para a economia, Valdis Dombrovskis, disse à CNBC nesta quarta-feira que, se os interesses econômicos do bloco precisassem ser defendidos, a UE responderia “de forma proporcional.”

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