Turistas americanos repensam viagens ao exterior por receio da imagem dos EUA sob Trump

Conforme avança o segundo mandato de Donald Trump nos EUA, os norte-americanos alternam a forma como planejam e vivenciam suas viagens internacionais. Preocupações com segurança, receio de hostilidade e um clima de julgamento político têm gerado uma mudança de hábitos, com casos extremos de pacotes cancelados e viagens desfeitas de última hora. O impacto, ainda que subjetivo, começa a afetar empresas do setor e aparece em indicadores da indústria global do turismo, segundo a rede CNN.

No Nepal, o operador turístico Raj Gyawali relata que teve, pela primeira vez em mais de duas décadas de carreira, um pacote cancelado por esse motivo. “Uma reserva completamente confirmada foi revertida quando a pessoa se sentiu insegura para viajar”, disse ele, que também percebeu maior inquietação entre outros clientes americanos, como muitos desconfortáveis por representarem um país que, sob o atual governo, tem gerado tensões globais.

As dificuldades não atingem apenas quem recebe turistas americanos. De acordo com dados da Tourism Economics, os Estados Unidos devem registrar uma queda de 5,1% no número de visitantes estrangeiros no país em 2025, com um prejuízo estimado de US$ 18 bilhões para a economia norte-americana.

Agências canadenses relatam cancelamentos em massa, e países europeus emitiram alertas voltados a pessoas trans e não-binárias sobre viagens aos EUA. Alemanha, Dinamarca e Finlândia destacam possíveis restrições na entrada dessas populações no território norte-americano porque o Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (Esta), usado para ingresso sem visto, não oferece opção de gênero além de “masculino” e “feminino”.

Donald Trump: decisões políticas afetam o turismo global (Foto: WikiCommons)
Americanos apreensivos no exterior

A resistência, porém, também se manifesta do lado de quem sai dos EUA. A publicitária Sierra Malone, que embarcou recentemente para uma temporada na Europa, descreve a sensação como inédita. “Da última vez [com Trump no poder], foi constrangedor; desta vez, parece aterrorizante”, diz.

A norte-americano afirma temer julgamentos, confrontos e a necessidade constante de explicar que não apoia o atual governo. “Quero escrever na testa: ‘Sou americana, mas não sou aquela americana.’”

O sentimento de rejeição tem respaldo em dados. Segundo a YouGov, empresa britânica de pesquisa de mercado e análise de dados, a imagem dos EUA piorou em sete grandes países europeus desde a reeleição de Trump. Na Dinamarca, a aprovação caiu de 48% para 20%, e índices semelhantes se repetem em França, Alemanha e Reino Unido.

Na Dinamarca, particularmente, a queda acentuada na imagem dos Estados Unidos tem relação com declarações do próprio Trump de que pretende incorporar a Groenlândia, um território autônomo dinamarquês, o que causou indignação no país escandinavo.

“As atitudes refletem os eventos atuais, e vemos críticas fortes à posição do governo Trump sobre a Ucrânia”, diz um porta-voz da YouGov.

Diante de tal cenário, empresários do setor turístico já começam a se organizar para lidar com os impactos políticos nas decisões de viagem. Gyawali, que também é parceiro da operadora norueguesa Ethical Travel Portal, afirma que sua equipe está “se preparando” para mais cancelamentos de clientes americanos. Para ele, é preciso ir além da reação imediata e adotar estratégias preventivas.

Entre as propostas está a criação de um grupo internacional de especialistas para desenvolver boas práticas que ajudem a preservar o turismo em um cenário global cada vez mais afetado por tensões políticas.

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