O vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel (Patriota) sugeriu nesta terça-feira (28), em discurso no plenário da Câmara Municipal, que agricultores e empresas agrícolas contratem trabalhadores argentinos, e não mais “aquela gente lá de cima”. O parlamentar disse que os baianos “vivem na praia, tocando tambor” e, por isso, “era normal que se fosse ter esse tipo de problema”, em referência aos funcionários de vinícolas resgatados no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão.
— Em nenhum lugar do estado, na agricultura, teve um problema com argentino ou com um grupo de argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente — discursou.
Antes, o vereador recomendou que os empresários do setor agrícola contratassem argentinos, que, segundo ele, são “limpos” e “corretos”:
— Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam.
Sandro Fantinel ainda disse que os acontecimentos envolvendo trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves (RS) são “exagerados” e “midiáticos”.
Segundo relatos, os funcionários encontrados nas vinícolas estavam sem receber salários, tinham jornadas exaustivas e sofriam agressões físicas. Eles recebiam comida imprópria para consumo, só podiam comprar produtos em um único estabelecimento, com desconto salarial e preços elevados, e eram mantidos vinculados ao trabalho por supostas dívidas contraídas com o empregador.
O vereador afirmou também que os alojamentos que funcionários temporários geralmente ficam são “simples” e “humildes”, para até 60 dias. Segundo ele, a limpeza é de responsabilidade dos próprios trabalhadores.
— Agora o patrão tem que pagar empregada para fazer a limpeza para os bonitos também ? É isso que tem que acontecer? Temos que botar em hotel 5 estrelas para não ter problema com ministério do trabalho? — questionou.
Ao Globo, o vereador de Caxias do Sul disse que foi “mal interpretado” e que deu as declarações “no calor da discussão”. Ele ainda afirmou que pediu à Câmara para retirar sua fala dos anais.
— Fiz uma fala que foi um pouquinho infeliz. No calor da fala a gente diz coisas que depois se arrepende — afirmou o vereador. — Depois, no pequeno expediente, eu disse que eu jamais tenho alguma coisa contra os baianos, inclusive tenho amigos e primos que moram no nordeste, na parte mais norte do país. Não tenho absolutamente nada contra o povo baiano, citei (os baianos) porque estavam envolvidos no processo que está ocorrendo em Bento Gonçalves — afirmou o vereador, acrescentando que adora “as praias de lá”, da Bahia, e que o “povo de lá é muito querido”.
O parlamentar negou que tenha chamado os baianos de sujos, mas que estava se referindo à falta de limpeza em um alojamento que visitou em sua cidade.
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